quarta-feira, 31 de julho de 2013

Como votar nas Autárquicas

O Pelourinho é o mais velho símbolo do poder local. Defenda-o!

Votar: Sim? Não? Como?

Este breve texto serve para promover uma reflexão pública sobre as próximas eleições autárquicas e fixar a posição do Partido Democrata sobre a matéria.

Para muitos portugueses a desilusão face ao que esta democracia populista, corrupta e falida tem para nos oferecer, quase trinta e nove anos depois de derrubada a ditadura de Salazar e Caetano, é tão grande que algumas centenas de milhar de portugueses já cá não estão. Emigraram em massa em busca de pão e decência.

Dos que ficaram, se descontarmos aqueles que dependem dos vencimentos, pensões e subsídios até agora garantidos pelo estado, apesar dos cortes, é bem provável que a maioria ou não vá votar nas próximas eleições autárquicas, ou vá votar com os pés, usando para tal o voto branco e o voto nulo.

A tentação de desertar do próximo ato eleitoral talvez nunca tenha sido tão forte. A partidocracia e a biopolítica continuam a dominar o sistema, e este, por sua vez, está nos bolsos dos grandes rendeiros do país e dos grandes especuladores mundiais. As perguntas daqui resultantes são óbvias: votar para quê? Porquê votar? Votar para quem?


Não é fácil responder!

Do parlamento às autarquias, passando pelos sucessivos governos desta democracia desmiolada e corrupta, o que hoje sabemos é que nos mentiram o tempo todo. Ao prometerem o que não podiam e ao fazerem o que não deviam com dinheiro clandestinamente emprestado, comprometendo criminosamente o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos e netos, não merecem nada de nós. Ou talvez mereçam isto: um enorme desprezo.

Não votar ou votar com os pés é uma forma clara de mostrar o nosso desprezo pela corrompida partidocracia que domina o país. Mas chegará? Ou seja, se ficarmos por aqui, conseguiremos afugentar os demónios da nossa democracia?

Eu creio que não. E é por isso que defendo o aparecimento de plataformas, movimentos, grupos de vigilância e partidos democráticos como vias para provocar a metamorfose que a nossa democracia precisa para se salvar de uma nova ditadura. Para haver outra ditadura já só falta mesmo uma bancarrota declarada, a qual, como sabemos, continua por um fio. A massa informe de onde sairão os poucos beneficiários de uma nova ditadura, por mais sofisticada que possa ser, está entre nós. Seria uma fatal ilusão pensarmos que virá de fora. A fraca gente do anterior regime passou incólume à dita 'revolução', sobreviveu e mudou de camisola. Amanhã, se for preciso, não hesitarão em mudar de camisa outra vez.

Sobretudo os mais jovens, principais vítimas do desemprego e da falta de emprego, apesar das qualificações conseguidas, devem agora pensar que é tempo de se envolverem nos problemas do país, pois estes problemas são, cada vez mais, os seus problemas de hoje e os seus problemas de amanhã.

Há quem defenda as candidaturas independentes como panaceia para o colapso da credibilidade do poder existente. No entanto, sabemos todos que estes processos tendem a ser capturados, mesmo antes de nascerem, pela nomenclatura dominante e pela lógica agora defensiva da própria partidocracia.

É preciso irmos mais longe e é urgente até usarmos o que sabemos para mudar o estado de coisas.

Por isso, o caminho que defendo passará necessariamente por três dinâmicas que poderão e deverão mais tarde confluir:

  1. reformar internamente as atuais forças partidárias, profissionais, empresariais e sindicais;
  2. reforçar todos os movimentos de cidadania independente, estimulando a sua crescente capacidade de agir sobre as decisões políticas e administrativas centrais, regionais e municipais;
  3. criar novos partidos políticos.
A esta luz, creio que devemos adotar uma geometria variável relativamente às próximas eleições autárquicas. Ou seja, antes de boicotar as eleições, ou de votar com os pés (branco ou nulo), devemos interrogar as forças candidatas, e só depois tomar uma decisão sobre o voto. Admito perfeitamente, sobretudo em eleições autárquicas, que qualquer das candidaturas nos possa convencer a votar, mas não sem antes lhe colocarmos questões e exigir respostas.

Com os meios tecnológicos à nossa disposição é hoje mais fácil colocar os candidatos e os partidos perante as suas responsabilidades. É por aqui que devemos apostar na renovação da delapidada e descaracterizada democracia que nos conduziu a falência.

Foi pensando nesta alternativa de ação que resolvi propor uma questionário a submeter aos candidatos autárquicos, e que lanço agora à discussão pública.


Aqui vai...

10 PERGUNTAS AOS CANDIDATOS AUTÁRQUICOS

1) Que promete fazer para tornar a sua autarquia mais eficiente e menos onerosa para os bolsos dos munícipes?

2) Que promete fazer para desburocratizar a vida municipal?

3) Que promete fazer para aumentar a transparência dos atos administrativos e o acesso aos documentos oficiais?

4) Que pensa da existência e implementação de um CÓDIGO DE ÉTICA MUNICIPAL?

5) Vai manter, subir ou baixar o preço da água e as taxas de saneamento no próximo mandato?

6) Vai subir, manter ou descer o IMI?

7) Que medidas promete implementar para atrair mais pessoas ao concelho?

Que medidas promete implementar para ajudar os jovens casais a terem emprego no concelho?

9) Que medidas promete implementar para aumentar a natalidade e fixar a população do concelho?

10) Que medidas promete implementar para atrair mais empresas ao concelho e facilitar a sua vida?

— Proponho, no quadro da campanha eleitoral em curso, uma discussão aberta sobre estes e outros temas relevantes para o poder local em Portugal.

— O primeiro passo a considerar deverá ser, na minha opinião, a elaboração de um questionário aos candidatos cuja formulação final está a partir desta proposta aberta à discussão.

António Cerveira Pinto

para o Partido Democrata 

Inquisição rasca

A volúpia da Inquisição

Vá lá, confesse que mentiu...

A senhora sabia. E tanto sabia que andou a negociar a redução dos prejuízos.

Na realidade, Maria Luís Albuquerque sabia, mas só soube o suficiente para agir depois de ter requisitado aos serviços e direções-gerais (que não são governo) a necessária informação, que o governo anterior não prestou, e ter chegado à conclusão que, em vez de 146 contratos swap de que se falava por aí, afinal existem mais de 250!

Por outro lado, ninguém do anterior governo, José Sócrates, ou Teixeira dos Santos (o resto da corja é irrelevante neste caso), responsáveis pela maioria dos contratos de endividamento escondido que agora estamos a pagar com impostos, cortes nas pensões, reduções de salários e perdas de emprego, comunicou em um único papel que fosse a existência, natureza e número dos ditos swaps, e muito menos a dimensão e gravidade do problema que os mesmos supõem para a credibilidade do estado português. O mais que fizeram foi avisar informalmente e apenas verbalmente Vítor Gaspar, e nunca Maria Luís Albuquerque, que havia uns problemas com swaps.


Resumindo: o anterior governo procedeu ou deu instruções a empresas públicas e direções-gerais para procederem a duas centenas de contratos de endividamento dissimulado. 

E precisamente porque se tratou de recorrer a instrumentos de endividamento clandestinos, a sua existência não poderia ter sido comunicada por escrito na pasta de transição do governo anterior, sob pena de termos agora lenha suficiente para sentar imediatamente José Sócrates, Teixeira dos Santos e a turma de desgraçados que lhes obedeceram, no banco dos réus.

Maria Luís Albuquerque não mentiu e, além do mais, negociou e continua a negociar para reduzir as perdas potenciais dos ditos swaps.

O anterior governo, pelo contrário, sim, mentiu aos portugueses, mentiu ao Eurostat e escondeu informação concreta ao governo de Passos Coelho, fornecendo-lhe apenas um lamiré sobre o potencial destrutivo dos swaps contratados desde 2003, deixando a Vítor Gaspar a tarefa de descobrir os meandros da galeria de buracos orçamentais dissimulados cavada pelo governo 'socialista'.

A geração parlamentar que tem vindo a perseguir Maria Luís Albuquerque faz-me lembrar cada vez mais o barro doente de que se fizeram em Portugal ao longo dos séculos as tropas galdérias da Inquisição e do Salazarismo.


Curiosamente, mais de 87% dos membros da comissão de inquérito parlamentar ao caso dos swaps pertence à chamada Geração X. Sobre as características desta geração vale a pena ler The Fourth Turning, e em particular percorrer este fórum sobre a dita geração. 

A minha geração, a dos babyboomers --Guterres (n. 1949), Durão Barroso (n. 1956), José Sócrates (n. 1957)-- é largamente responsável pela 'largesse' despesista e consumista que nos conduziu ao desastre. Mas a mimada geração que entretanto chegou ao poder --Pedro Passos Coelho (n. 1964), António José Seguro (n. 1962) e Paulo Portas (1962)-- conhecida como a Geração X, vai ter que aprender depressa com a nova crise, ou ceder o seu lugar, muito antes do expectável, à próxima geração, a chamada geração do milénio.

António Cerveira Pinto

Última atualização: 31/7/2013 10:48 WET

sábado, 27 de julho de 2013

Os cavadores do PS

Carlos Zorrinho, o barragista-mor de José Sócrates.
Foto: Nuno Ferreir Santos

Parem de cavar — diz o cavador principal do PS!

A ‘esquerda’ corporativa tem andado muito empenhada numa campanha de manipulação sem precedentes contra Maria Luís Albuquerque e as suas mal imputadas mentiras sobre swaps.

No entanto, a responsabilidade (criminosa) pela maioria dos mais de 250 swaps contratados para financiar clandestinamente o défice e a dívida do país, é de José Sócrates, de Teixeira dos Santos, do governo anterior, e portanto do PS e dos sindicatos para quem a satisfação dos direitos constitucionais autorizou um conluio especulativo, ilegítimo e ilegal, com alguns dos maiores banksters do planeta.

Mas atenção, o buraco criado na Swapilândia é muito inferior ao buraco do BPN, BPP e Banif, Caixa, BCP e BPI juntos, e não se compara com o buraco negro das PPP. Se não vejamos:
  • Buraco potencial dos swaps: €3.000.000.000,00 (entretanto reduzidos para metade, por Maria Luís Albuquerque)
  • Buraco potencial dos bancos resgatados e recapitalizados: €12.000.000.000,00 (o Estado poderá perder menos de metade desta quantia no conjunto das operações em curso)
  • Buraco das 120 PPP (no termo de todas as concessões): €60.000.000.000,00
Que eu saiba, tudo isto, ou quase, foi imaginado e/ou autorizado pelas mentes levianas e corrompidas dos governos de José Sócrates. Só o potencial de destruição das PPP é quatro vezes superior à soma das potenciais perdas com swaps e bancos habituados a viver em simbiose oportunista com o regime do Bloco Central (PSD-PS-CDS/PP).

E agora Zorrinho, que me diz das suas barragens? Pagamos nós, ou paga Você?

Segue-se uma análise ponderada e serena do descalabro ‘socialista’, publicada por Rui Rodrigues no Público de ontem. É por estas e por outras que o parlamento das cagarras prefere lançar poeira para os olhos do eleitorado!

António Cerveira Pinto

Ainda as PPP
Mais impostos e barragens agravam finanças

in Público/Carga & Transportes, 26/7/2013

No último artigo, foi feita uma análise do relatório preliminar elaborado em junho de 2013 por uma Comissão parlamentar sobre as Parcerias Público Privadas (PPP) rodoviárias e algumas ferroviárias. Foi definido o conceito de PPP e foram levantadas algumas questões, entre as quais se destacam as seguintes:

1. Porque razão algumas das PPP foram abandonadas e outras não.

2. O relatório parlamentar tentou identificar responsáveis pelos contratos assinados e até enviou o documento para o Ministério Público. O principal objetivo deveria ter passado por sugerir como anular as PPP (que ainda estão no início ou a decorrer), o mais depressa possível, e a atribuição de responsabilidades deveria ser suscitada mais tarde.

Um dos principais argumentos invocados para não se alterarem as PPP consiste na justificação de que os contratos estão “blindados”. A questão apresentada no ponto (1) e tendo em conta que o Governo já desistiu de algumas das PPP demonstra que, quando existe vontade política, estas são mesmo abandonadas.

O cancelamento destas infraestruturas deveria ser uma das opções de resolução deste grave problema, porque a estratégia principal deste sistema consiste no crescimento baseado no endividamento. Tendo em conta que a maior parte do capital para a construção das infraestruturas terá que ser obtido através de empréstimos no estrangeiro e devido ao elevado valor dos juros, quase todos os projetos deixam de ter rentabilidade que justifique o investimento. Convém recordar que uma taxa de juro anual de 7%, ao fim de 10 anos, quase duplica a dívida.

Em percentagem de investimento verifica-se que a rodovia está em 1º lugar, em 2º lugar o Ambiente, e as novas barragens na 3ª posição, representando assim 72% do total das PPP:

41% para Rodovia (novas autoestradas e vias rápidas);

19% para Ambiente (Águas, Saneamento e Resíduos)

12% para Produção de energia elétrica (Novas Barragens)

Alguns partidos e até ministros do Governo de Passos Coelho sugeriram já a ideia de criar impostos extraordinários sobre os concessionários das PPP. Esta solução não vai resolver o problema, pois a economia nada iria beneficiar com esta opção.

No caso concreto das ex-SCUT, que nem sequer são autoestradas, o valor a pagar nas portagens é de 8 a 9 cêntimos por quilómetro (Km), com IVA incluído; ou seja, a cada 100 Km são gastos 8 a 9 Euros. Este valor é superior ao de várias autoestradas francesas. Em média, para uma viatura ligeira, que circule nas ex-SCUT, o preço da mobilidade por Km teve um aumento de 100%, comparando com a situação existente, no passado, sem portagens.

Esta nova realidade corresponde à quase duplicação do encargo gasto com os combustíveis, o que está a penalizar fortemente a economia e o turismo nacional. As ex-SCUTS estão vazias ou com tráfego muito baixo. Esta é a melhor confirmação de que as opções escolhidas para estas infraestruturas rodoviárias não correspondiam à realidade nacional.

Novas barragens agravam problema energético

As novas barragens em início de construção ou por construir não têm fundos comunitários. Considerando só a energia hídrica (proveniente do rio), estas vão apenas funcionar um mês por ano (fonte INAG), produzindo somente 1672GWh/ano, isto é, apenas 3% do consumo nacional em 2010.

Durante o dia, a turbina da barragem vai produzir eletricidade para a rede elétrica nas horas de maior procura, através da água acumulada na albufeira. Durante a noite, por existir muito mais vento e menos consumo, as eólicas vão fornecer eletricidade para bombear a água. Ou seja, a água vai circular ao contrário.

Na fase da bombagem, a barragem vai consumir energia, pois a água vai circular em sentido oposto à do rio para ser elevada para a albufeira.

O balanço energético das fases 1 (barragem a produzir durante o dia) e 2 (fase da bombagem) é negativo devido à energia consumida na bombagem. Não aumenta 3%, como se afirma.

O preço da energia eólica é pago pelos consumidores a 95 euros por MWh. Para o concessionário, o preço da bombagem vai ser muito baixo, por ser efetuado durante a noite (podendo até ser nulo). É sobretudo através da diferença de valores pagos na bombagem, que o concessionário vai pagar a barragem.

Para os consumidores a despesa total será: preço da bombagem (95€ por MWh) + preço da hídrica (57€ por MWh), um dos preços da eletricidade mais altos do mundo.

O Governo dará ainda um subsídio de 20.000 Euros por MW, disponível pela garantia de potência às centrais electroprodutoras, mesmo que estas nada produzam. Este valor, para as novas barragens, pode atingir 50 milhões de Euros, por ano. A sua concessão vai durar entre 65 a 75 anos, mais do dobro das ex-SCUT.

Quem construir a nova barragem fica ainda com o direito de concessionar a água a terceiros.

Em conclusão, quanto à energia, gastar 16 mil milhões de euros nas novas barragens, cujo balanço energético é negativo, para só funcionarem durante 30 dias por ano, seria o mesmo que uma família gastar todas as suas economias para passar 1 mês por ano numa 2ª casa de férias.

A melhor opção é investir na eficiência energética (por ser muito mais barata) ou no aumento da potência das barragens existentes, cujo impacte ambiental é nulo, em vez de se gastar milhares de milhões de euros na construção e pagamento de rendas das novas barragens.

Compare-se o sucesso decorrente do reforço da potência da barragem de Venda Nova (no Norte) com os resultados previstos das novas barragens. Nestas, a relação custo benefício é 240% mais cara que o reforço da potência da barragem de Venda Nova, dado que aquela já está construída.

Recorde-se ainda que nos últimos anos o consumo de energia elétrica está a diminuir.

Imposto sobre o concessionário de PPP nada resolve.

Obviamente, a criação de um imposto sobre o concessionário de qualquer PPP, não vai beneficiar em nada os seus utentes.

A melhor opção será renegociar os contratos efetuados das obras que já estão terminadas, devendo-se pensar no abandono das PPP, que estão no início ou daquelas que não se justificam.

Tendo em conta as gravíssimas limitações financeiras do País devem ser estudadas as seguintes opções:

1. Abandono e indemnização aos concessionários das PPP.

2. Expropriação das PPP.

3. Redução das taxas de rentabilidade das PPP, como foi feito em Inglaterra.

No relatório preliminar da Comissão parlamentar sobre as PPP, a Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) é definida como “uma taxa que em função de uma hipótese realista de rendibilidade dos capitais recuperados dá a rendibilidade do capital inicialmente investido durante o período de vida do projeto, ou seja, é um indicador que mede a rentabilidade de um determinado projeto.”

Para o presente e futuro do País, é decisivo tornar a economia mais competitiva. Criar infraestruturas em que os utilizadores vão pagar dos preços mais elevados da Europa, só pode levar ao aumento da recessão económica.

O Governo pode decretar o Estado de Emergência Nacional e invocar que o País está falido. Ninguém entende que se cortem nas reformas e salários e nada se altere nem se corte nas PPP.

Rui Rodrigues

Afinal quem mentiu?

Chamavam-lhe Pinóquio, por algo...

A minha mentira é melhor que a tua!
“Tínhamos conhecimento de 146 ou 147 operações e acabaram por ser analisadas mais de 250, porque foi preciso ir à procura do histórico” — Maria Luís Albuquerque.
A 'esquerda' corporativa pretende desviar a atenção dos eleitores para uma suposta mentira dita por Maria Luís Albuquerque no parlamento das araras. A ministra, de facto, não mentiu, como adiante se demonstrará. Assim, o que na realidade a 'esquerda' corporativa pretende com mais esta manobra de diversão é, por um lado, manter António José Seguro sob pressão, contra as potenciais virtualidades das reuniões entre os partidos do Memorando promovidas por Cavaco Silva e, por outro, com este sórdido cerco de cagarras movido contra a atual ministra das finanças, o que a 'esquerda' corporativa quer é esconder da opinião pública as suas pesadas responsabilidades na celebração de quase 245 SWAPs clandestinos. Clandestinos, sim, pois só na clandestinidade teria sido possível ocultar tamanha despesa pública ruinosa do orçamento de Estado e da dívida pública.

A esmagadora maioria dos SWAPs que serviram para permitir ao estado português sobre endividar-se, enganando Bruxelas, o BCE e os portugueses, permitindo a José Sócrates aumentar salários e fazer a despesa perdulária que agora estamos a pagar com língua de pau, não foi comunicada na chamada 'pasta de transição' que o ministro Teixeira dos Santos entregou a Vítor Gaspar.

O ex-ministro das finanças teve o cuidado de não anexar nenhum documento escrito sobre esta matéria criminosa na 'pasta de transição' que entregou ao seu sucessor, limitando-se a uma conversa informal sobre o assunto, e explicando porventura ao seu sucessor que havia um dossier algures que exigiria especial cuidado, atenção e muita discrição.

Acontece, porém, que a Troika exigiu conhecer toda a porcaria produzida pelo governo 'socialista', e depois exigiu também que a porcaria passasse a contar para o apuramento da real dívida pública portuguesa. Foi nesta altura que a bronca começou a ferver em lume brando, até rebentar.

Maria Luís Albuquerque, enquanto secretária de estado de Vítor Gaspar, procedeu à renegociação dum dossier verdadeiramente explosivo, envolvendo o governo de Portugal (capturado por piratas) e os maiores bancos financeiros do planeta: Goldman Sachs, JP Morgan, Merrill Lynch, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Santander, Barclays, ABN Amro e BNP Paribas, todos eles, aliás, envolvidos no financiamento clandestino do estado português (grego, etc.) através de variedades exóticas de SWAPs, especialmente desenhados para passarem despercebidos junto do Banco de Portugal, do Tribunal de Contas, do Eurostat e do parlamento das araras, claro.. 

O assunto é de uma enorme gravidade. E se alguém deve ir preso pelos vários crimes implícitos nestas operações, a lista teria que ser necessariamente encabeçada por José Sócrates e Teixeira dos Santos — nunca pelos boys & girls a quem o Bloco Central sugeriu que desencantassem, onde fosse preciso, a massa para alimentar empresas públicas feridas de insolvência, projetos sem financiamento à vista, e máquinas partidárias vorazes.

Em desespero de causa, a 'esquerda' corporativa desencantou uma profusão de e-mails sobre SWAPs (do anterior governo, sublinhe-se) enviados por um diretor-geral à então secretária de estado Maria Luís Albuquerque. Sabe-se que Maria Luís pediu mais esclarecimentos sobre o assunto, e sobre omissões de contratos. Com o passar do tempo e das investigações, necessariamente discretas, apuraram-se não 146 contratos, mas mais de 250! E sabe-se também o óbvio: um diretor-geral não faz parte de qualquer governo, nem é responsável pelas decisões governamentais.

Maria Luís Albuquerque mentiu? Não! 

Quem mentiu e omitiu mais de 250 contratos clandestinos, alguns dos quais criminosos, do conhecimento do atual governo e sobretudo do povo português, já para não falar da União Europeia, foram várias criaturas do anterior governos, algumas da quais, como Carlos Zorrinho (o homem das barragens assassinas do Sabor e do Tua), aparecem agora no pelotão da frente do coro de cagarras contra a atual ministra das finanças.

A fronda neo-jacobina promovida por Mário Soares e José Sócrates, com a colaboração indigente do PCP, do Bloco e de boa parte dos empenhados jornalistas da nossa imprensa escrita e audiovisual, serve sobretudo para proteger a ‘esquerda’ corporativa do regime e alguns notórios piratas. 

A manobra contra Maria Luís Albuquerque é, aliás, a prova provada de que a 'esquerda' corporativa apenas pretende criar uma cortina de fumo sobre os milhares de milhões de euros de endividamento escondido (desorçamentado) gerados pelo governo Sócrates, sob o manto hipócrita dos ditos SWAPs especulativos. 

O governo de José Sócrates e o PS não prestaram nenhuma informação nos termos formalmente devidos à maioria e ao governo actuais. Teixeira dos Santos limitou-se a uma conversa de café sobre o tema, que veio agora relatar, não fosse afogar-se numa Swapilândia de que foi um dos principais responsáveis políticos.

António Cerveira Pinto

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Falta ouvir o maquinista!

Maquinista responsável (?) pelo acidente ferroviário de Santiago de Compostela


Falta ouvir o maquinista e analisar a caixa negra!

Ana Pastor: "Las personas que están al frente de un tren tienen que atenerse a unos protocolos"

La ministra de Fomento ha explicado que los sistemas de seguridad se adecúan al tipo de tren y a la velocidad permitida en función de unos protocolos. "Los responsables técnicos tienen que tener todo ello protocolizado y a quien corresponda tiene que cumplir las normas en cada momento", añadió. Ha indicado que "se trabaja para esclarecer la verdad" y que ofrecerá "de forma inmediata" toda la información una vez la reciba de los técnicos que lo investigan.

Ver más en: 20 minutos

Ou o ERTMS falhou, por avaria ou sabotagem, ou estaremos na presença e um maquinista aventureiro...

El Conficencial, 25/7/2013, 18:12.: “Donde el tren salió de las vías, causando más de 150 heridos y 78 víctimas, ya no hay balizas. Como ha explicado a este diario un portavoz de Thales, la compañía que en 2010 instaló la tecnología hasta el kilómetro 80 de la línea, estas placas aplicadas en las vías “comunican” a quien está en la cabina lo que ocurre en el terreno, siendo así una pieza clave del ERTMS. En este tipo de tramos el sistema es manual: señales laterales e indicadores analógicos advierten al conductor de las precauciones a tomar. En el momento de transición entre los dos tramos, el conductor tiene que “avisar” al tren de que se ha dado cuenta del cambio en la línea. “Si el conductor no pulsa un determinado comando, asegurando que es consciente del cambio en el sistema, el tren se para”, detalla este portavoz.”

Mas mesmo que estivéssemos na presença de um maquinista suicida, o sistema automático de controlo de velocidade deveria ter prevenido o desastre e o morticínio.

Se não não preveniu, das três, uma:
  • ou o sistema adotado não é apropriado, e por isso falhou; 
  • ou o maquinista podia e desfez o controlo automático da velocidade (tese da 'imprudência' do maquinista — de que duvido);
  • ou houve sabotagem! 
Além do mais, comboios de Alta Velocidade não devem ser conduzidos por um só maquinista.

A complexidade deste sistema de transporte, tal como sucede com os aviões, precisa de redundância humana. A redundância eletrónica é demasiado falível, como toda a gente sabe.

Finalmente a linha Madrid-Ferrol é uma solução atamancada, tal como a que quer implementar em Portugal a turma de levianos que aconselha o Sérgio das PPP.

CUIDADO!!!

ÚLTIMA HORA!

31/7/2013, 16:29 WET — Caixa Negra do comboio acidentado prova que houve causas múltiplas para acidente tão grave, mas ficou tb claro q a falta do sistema de controlo de velocidade ERTMS é porventura uma falha crítica q obrigará a Espanha a rever os seus procedimentos de segurança e lançamento de novas linhas de alta velocidade. Para já as candidaturas aos importantes projetos de Alta Velocidade no Brasil e no Médio Oriente serão certamente prejudicados. Por cá, é preciso redobrar a vigilância sobre o Sérgio das PPP e a irresponsável política de transportes do governo Passos Coelho.

ACP

(Via Libre, 31/07/2013) ...En la biblioteca de los juzgados, el juez, la secretaria y el fiscal se reunieron con policía científica, judicial, técnicos de Renfe, Adif y técnicos de la Comisión de Investigación del Ministerio de Fomento para analizar la forma en que se iba a acceder a la información y comprobar que todas las partes estaban de acuerdo.

Tras recibir las especificaciones técnicas de las cajas negras y realizar una prueba con otra caja negra, se procedió al volcado de información de las dos cajas negras del tren siniestrado de manera que quedase totalmente garantizada la integridad y fiabilidad del contenido.

Los datos se extrajeron en un lápiz de memoria aportada por el juzgado y posteriormente se hicieron copias autentificadas con firma digital. La información que se obtiene de las cajas está encriptada y se pasa por un programa informático para proceder a su desencriptación. Las primeras informaciones provisionales que se extraen del análisis de los últimos kilómetros recorridos por el tren antes de la salida de vía, siempre a la espera del informe de la policía judicial, son los siguientes:

-- El tren circulaba en los kilómetros previos al momento del descarrilamiento a 192 kilómetros por hora.

-- Segundos antes del accidente se activó un freno.

-- Se estima que en el momento de la salida de vía el tren circulaba a 153 kilómetros por hora.

-- Del audio almacenado en las cajas negras se ha podido saber también que el maquinista estaba hablando por teléfono con personal de Renfe, que parece ser un controlador, en el momento del accidente. Minutos antes de la salida de vía recibió una llamada en su teléfono profesional para indicarle el camino que tenía que seguir al llegar a Ferrol. Del contenido de la conversación y por el ruido de fondo parece que el maquinista consulta un plano o algún documento similar en papel.

Por otra parte, el juez autorizó hoy a los técnicos de la Comisión de Investigación de Fomento a realizar mediciones de las ruedas de los vagones, siempre acompañados por policía judicial. Los vagones no se moverán hasta que se completen las inspecciones oculares; todavía está pendiente el acceso a pequeñas zonas cerradas por hierros que hay que cortar. Cabe la posibilidad de que se trasladen perros para realizar una última inspección de los restos. También está previsto realizar un estudio de la máquina.

Por el momento no ha sido citado para declarar ningún testigo.


COMENTÁRIOS

Comentário chegado de Doha (31-7-2013))
“Para alem de todas as culpabilizacoes, o sistema de seguranca, no minimo eh burlesco. O maquinista nao sabia onde estava, e recebia instrucoes por telemovel ao mesmo tempo que tinha de consultar um manual. Sistema de controlo de velocidade , nao havia, nem a entrada das cidades. Inacreditavel!!! E incrivel como os dirigentes espanhois fogem com o rabo a seringa. O impacto no medio oriente, onde estao a concorrer as linhas TGV locais, eh ja imediato.”
É preciso rever a estratégia deste governo, ou falta dela, para a Alta Velocidade...

A propósito do gravíssimo acidente ferroviário com um comboio de Alta Velocidade espanhol que operava e continua a operar num sistema não coerente, recebemos de um especialista em transportes o comentário seguinte, que reputamos da mais alta importância para os decisores políticos.
Caro amigo,

As consequências do acidente de Santiago de Compostela estão muito para além do sinistro, havendo outras conclusões a retirar, nomeadamente sobre soluções híbridas, como é o caso dos comboios de eixo variável e linhas de utilização mista (passageiros e mercadorias).

A questão do "relevée", que no fundo é um ângulo de compensação para o interior da curva de forma a compensar a força centrifuga tem como pressuposto conseguir o compromisso entre comboios de velocidades e pesos distintos que circulam nessas mesmas linhas.

Por exemplo, um ‘relevée’ ótimo para um comboio a 350km/h não é necessariamente ótimo para um comprido e pesado comboio de mercadorias, resultando da circulação deste tipo de composições um maior desgaste do carril (mesa de rolamento) de dentro. Se um dia tiver oportunidade de reparar numa curva, verá um dos carris mais baixo do que o outro (em ‘relevée’), e verá que, por vezes, o carril situado no plano inferior está mais desgastado do lado de dentro. Isso é devido aos comboios mais lentos, com especial destaque para os de mercadorias. O esforço de tração das locomotivas e o verdugo da roda são elementos de grande desgaste do carril.

Daí que eu tenha defendido, por exemplo, a adaptação da linha convencional de Badajoz a Madrid para bitola UIC de forma a nela circularem pesados comboios de mercadorias (ex Porto de Sines)

Do meu ponto de vista, o acidente de Santiago e seu efeito mediático vem colocar vários problemas em cima da mesa.

Apesar da evolução da tecnologia ferroviária em termos de eixos telescópicos para circulação em linhas de diferentes bitolas, estamos na prática a introduzir entropia no sistema, com incremento dos riscos de acidente. Recorda-se, até hoje, de ter havido algum acidente grave nos TGV's em França, que circulam apenas em bitola UIC? Nem em França, nem na Alemanha, nem em Itália.

Esta questão da bitola, em Portugal (e em Espanha), tem que ser encarada de frente, assumindo-se publicamente soluções duradouras e funcionais, e não provisórias ou de recurso. Improvisar em termos ferroviários é um risco sempre acrescido.

Apesar da tentação de Espanha querer avançar para soluções híbridas, por uma questão de dinheiro e tempo, pois Espanha anda sempre a correr atrás do fundos europeus (Portugal é o inverso - FOGE, e fica muito confortável e contente por fugir  * ), o exemplo de ontem foi uma prova evidente de que importa não correr riscos.

Um Grande Abraço.

* Portugal faz-me recordar a seguinte história. Imagine 2 amigos. Um deles diz que quer comprar um carro novo, e o outro diz-lhe que se o outro comprar um carro novo ele compra um par de calças novas, pois as que tem estão completamente rotas. Um certo dia, o do carro diz-lhe que afinal não vai eventualmente comprar um carro para já, logo o outro fica todo radiante por não ter de comprar um par de calças novas, ficando o resto da vida orgulhoso por andar todo roto.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O parlamento das cagarras

in Público

O ataque a Maria Luís Albuquerque é próprio de uma esquerda corporativa sem escrúpulos, nem um mínimo de elegância

O tal Pin(a) cor-de-rosa passou informação, diz ele, a Maria Luís Albuquerque. Só pode ter sido entre dois pasteis de bacalhau e uma taça de Duque de Viseu!

Coisa tão séria quanto a especulação em massa promovia durante o governo de José Sócrates, nomeadamente recorrendo a SWAPs especulativos, para alimentar as insaciáveis empresas públicas dos boys & girls do Bloco Central (e do PCP-Intersindical) não teria sido matéria suficientemente importante para uma transmissão um pouco mais formal da pasta, com memorando apenso, descrevendo os assuntos mais urgentes e graves?

Quem pode crer nesta corja socratina?

O tal Pin(a) rosé diz que que disse! E como estavam os pasteis de bacalhau da Versailles, lembra-se?

Repito: coisa tão séria não teria sido matéria para uma transmissão um pouco mais formal da pasta, com memorando apenso descrevendo os assuntos mais urgentes e importantes?

E como o Pin(a) rosado diz que disse, o Bloco de Esquerda, zumba: convocou logo a ministra ao parlamento, como se fosse uma sangria desatada.

Quem pode levar a sério as dores destas cagarras bloquistas?

Na realidade, a antecipação dos resultados do défice, das exportações, do turismo e do crescimento, sobretudo a norte do Mondego, foi o verdadeiro gatilho da crise política e do nervosismo da esquerda corporativa... Portas, Cavaco e ainda Seguro (à boleia) aproveitaram para ganhar terreno.

Eu gosto da nova ministra. É loira, mas não é burra. E mais: Maria Luís, além de Albuquerque, é de Braga.

As galegas de origem céltica e sueva podem fazer toda a diferença num país ultimamente dominado por beduínos algarvios e contrabandistas beirões.  Sem ofensa para os beduínos, nem para os beirões, claro.

Há gente séria em toda a parte!


POST SCRIPTUM

Parece que andava enganado sobre esta senhora...

  • Maria Luís Albuquerque recebeu informação detalhada de 145 "swap". JN, 25/7/2013. 
 Ou talvez não!
  • Neste jogo de sombras parece agora claro que a ministra não mentiu! E que:

    1) o governo anterior autorizou a esmagadora maioria dos SWAPS, essencialmente destinados a esconder de Bruxelas, dos orçamentos do Estado, e dos portugueses, despesa pública escandalosa;

    2) o governo de José Sócrates não transmitiu formalmente nenhuma informação sobre SWAPs ao novo governo empossado (uma conversa meramente verbal não faz prova de responsabilidade do anterior governo nos SWAPs que ordenou ou induziu — et pour cause!);

    3) finalmente, os emails do diretor geral Pedro Felício hoje revelados, não podem ser considerados informação do ex-governo ao atual governo, mas sim informação técnica de uma DG para o governo atual, a qual começou, aliás, por ser muito incompleta...

    Público: "Reiterando que a informação sobre os swaps não constava na pasta de transição que recebeu do anterior Governo, Maria Luís Albuquerque rejeitou ter desvalorizado o problema, defendendo que só foram tomadas medidas em 2013, porque antes tinha que “ser conhecido no seu conjunto”.

    “Tínhamos conhecimento de 146 ou 147 operações e acabaram por ser analisadas mais de 250, porque foi preciso ir à procura do histórico”, exemplificou."

Última atualização: 25/7/2013, 23:51 WET

A Unicer é da Carlsberg



Eu é que sou o presidente da... Junta!

Vamos estar todos muito atentos ao novo governante, pois ignoramos o que ele pensa sobre seja o que for, exceto que abomina o euro e quer regressar ao escudo. Influência, certamente, do seu ex-patrão: a dinamarquesa Carlsberg. Quanto à cor da criatura, não é a melhor recomendação.

António Cerveira Pinto

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Calca-mar Seguro

António José Seguro cresceu nesta crise, para além do expectável.

O principal vencedor desta crise chama-se António José Seguro

Continuo convencido de que Cavaco Silva colocou uma mão por baixo do líder do PS, e que o cold call ao bluff de Paulo Portas foi mesmo uma jogada de grande frieza e cálculo, que mostrou o jogo vazio do ainda líder do CDS/PP, que colocou a liderança de Passos Coelho numa cápsula de tempo com prazo de validade escarrapachado no rótulo, e que, por fim, aposta claramente num período pós-Troika cor-de-rosa, desde que liderado por uma nova geração sensata e sobretudo capaz de começar a construir pontes que aguentem as tremendas pressões a que o país inteiro estará sujeito nos próximos anos.

Pela centralidade histórica de que um partido socialista que soube a tempo meter o socialismo na gaveta goza, permitindo-se com à vontade único estabelecer compromissos à esquerda e à direita, o PS é o partido que se segue na governação de Portugal, tendo, porém, para tal, que começar desde já a construir uma complexa topologia de compromissos realistas, e sobretudo de inovação política e democrática, com toda a sociedade, sobretudo com o PSD, e ainda com o Partido X que falta surgir no espectro partidário, para potenciar uma rápida evolução cultural da praxis política no nosso país.

Esta crise foi uma prova de fogo para António José Seguro. E devo reconhecer que, depois de o ouvir esta noite (em entrevista conduzida pela rebelde mais sexy da televisão portuguesa — Ana Lourenço) explicar ao país como conduziu as operações do PS na resposta ao desafio lançado pelo presidente da república, que o PS ganhou finalmente um líder, a quem os cagarros e as tríades deixarão em breve de fazer sombra. O espectáculo lamentável dado por Mário Soares, Manuel Alegre, José Sócrates e António Costa voltou-se já contra eles, e irá enterrá-los paulatinamente ao longo dos próximos meses.

Diz-me a intuição que a semana que passou, embora sem compromisso histórico, nem salvação nacional, pode ter abalado definitivamente o pântano partidário indígena. Oxalá!

Os negociadores Alberto Martins, Jorge Moreira da Silva e Pedro Mota Soares foram encarregados duma missão impossível. Mas saíram-se bem. O que o país realmente ganhou por ter tido estes três políticos sentados à mesma mesa buscando um compromisso foi muito mais importante do que a assinatura formal de um acordo que, na realidade, seria eleitoralmente desvantajoso para o PS, pois recordaria a todos que o PS, nomeadamente aquele que José Sócrates chefiou, foi um dos principais responsáveis pela pré-bancarrota de Portugal, mas também para Passos Coelho e Paulo Portas, para quem tal assinatura seria o mesmo que um despedimento com data marcada.

É por isso que eu creio que o senhor Aníbal Cavaco Silva, que nunca foi tolo, atou bem este atado, condenando a situação podre da coligação ao limbo, e começando desde já a trabalhar com o futuro PS, com o futuro PSD e até com o futuro CDS/PP (se resistir).

Para quem não entendeu, está finalmente explicada a expressão 'pós-Troika'!


NB: o professor Pardal da TVI é mesmo, como um dia lhe chamou Manuel Maria Carrilho, pura gelatina política. Então não é que a criatura anda desde o inicio da crise a candidatar-se descaradamente à presidência da república, rastejando diante de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas? Haja alguém que lhe explique que um divertido comentador de televisão raramente faz um bom político, quanto mais um presidente!

António Cerveira Pinto


sábado, 20 de julho de 2013

Plano B

Paulo Portas precisa de crescer, ou desaparece

Escolher outro primeiro ministro do PSD, convocar eleições, ou aceitar o plano de Portas?

Para o Presidente da República, e por boas razões —que o cacique Mário Soares ignora— um governo de sua iniciativa “está totalmente excluído porque desde a revisão constitucional de 1982 que os partidos deixaram de responder politicamente perante um Presidente. Se um governo responde perante a Assembleia da República, então não faz sentido qualquer Governo de iniciativa presidencial.”

Para o Presidente da República, o actual Governo encontra-se “na plenitude das suas funções”.

No dia 10, o Presidente da República disse que, com a eventual ausência de entendimento interpartidário, os portugueses poderiam “tirar as suas ilações quanto aos agentes políticos que os governam ou que aspiram a ser governo”.

Prever é, na maioria dos domínios, uma arte que depende do grau de precisão pretendido. O mundo pode acabar de um dia para o outro, não sobreviver ao passar deste sábado, por exemplo, mas afirmar que amanhã será mais um domingo para milhares de milhões de pessoas continua a ser uma espécie de certeza de que ninguém duvida. Prever que amanhã será, em todo o planeta, o derradeiro domingo para mais ou menos 153 mil criaturas da espécie Homo sapiens faz parte do que chamamos uma verdade estatística. Afirmar que no próximo segundo desaparecerão 1,78 pessoas da face da Terra é o que se chama certeza probabilística. No entanto, prever qual vai ser a decisão de Cavaco Silva depois de consumada a farsa negocial entre os três partidos responsáveis pela Constituição que temos, pela adesão à União Europeia e ao euro, pelos sucessivos PEC e pela assinatura do Memorando que baliza o resgate do país da situação de bancarrota iminente em que se colocou, cortesia da nomenclatura parasitária do regime e da partidocracia populista que temos, é praticamente impossível. Quanto muito podemos fazer apostas:
  1. Cavaco convoca eleições antecipadas;
  2. Cavaco mantém governo e aceita remodelação proposta por Passos e Portas;
  3. Cavaco mantém governo mas negoceia a remodelação;
  4. Cavaco não aceita remodelação de Passos e Portas, e exige a manutenção de uma razoável proporcionalidade partidária na composição do governo remodelado, em nome dos resultados eleitorais que proporcionaram a atual coligação;
    1. Passos e Portas aceitam ultimato de Cavaco, e temos a coligação recauchutada;
    2. Passos e/ou Portas não aceitam o ultimato e demite(m)-se;
    3. Cavaco chama de novo o PSD a formar governo, dando-lhe o prazo máximo de uma semana para o conseguir apresentar uma solução aceitável e conforme aos resultados das últimas eleições;
    4. Passos, ou outra personalidade do PSD, lidera a formação do novo governo, ou...
    5. ...então, perante a(s) recusa(s) de Passos ou/e Portas de aceitarem um novo primeiro ministro, Cavaco dissolve finalmente o parlamento e convoca eleições legislativas antecipadas, coincidentes com as Autárquicas.
Que vai ser, então? Alguma das hipóteses acima enumeradas, ou espera-nos, como diria Hassim Nicholas Taleb, um cisne negro? Isto é, algo totalmente imprevisível?

As próximas eleições, autárquicas, ou autárquicas e legislativas, poderão destruir o CDS/PP e deixar o PSD abaixo dos 20%, sem que o PS ganhe a diferença perdida pelos partidos do governo. Uma tremenda abstenção e uma mais do que previsível campanha pelo voto branco, de protesto contra a irresponsável, incompetente e corrupta partidocracia que nos conduziu ao desastre, poderá deixar o país numa situação ingovernável, com múltiplas cisões a percorrerem os indecorosos partidos políticos que fomos sentando na Assembleia da República ao longo das últimas quase quatro décadas de democracia corporativa e populista. 

É porque este cenário não deixa de ser verosímil que Passos e Portas não querem eleições. E é por este mesmo motivo que Portas quer mais poder no governo, invocando a necessidade de salvar o seu partido de uma extinção eleitoral. Por fim, é este mesmo cenário que coloca António José Seguro na corda bamba do seu próprio partido. O pobre homem quer uma maioria absoluta. E se não tiver, que é o mais provável, que faz? Entrega o poder às ratazanas do partido?

PS+Partido X+PSD

Que cenários pós-eleitorais se podem prever para 2014, ou 2015?
  • Um governo PSD-CDS/PP é altamente improvável, pois as perdas eleitorais destes partidos serão enormes.
  • Um governo PS-CDS/PP é altamente improvável, pois o CDS/PP terá sido varrido do mapa.
  • Um governo PS é altamente improvável, primeiro, porque ninguém se esqueceu de quem atirou Portugal para o buraco, e segundo, porque não se pode confiar num líder tão fraquinho e disléxico como de facto é António José Seguro.
  • Um governo PSD-PS é uma possibilidade, desde que PS e PSD corram com os atuais líderes e escolham novos protagonistas, mas não deixa de ser improvável, tendo em conta que os políticos em funções tenderão a agarrar-se ao poder como nunca; e que os candidatos alternativos têm pouco tempo para aparecer e mostrar o que potencialmente valem.
  • Um governo tripartido PS+Partido X+PSD, significaria que em breve teríamos que ter uma nova força política e partidária, pragmática, responsável e capaz de operar consensos difíceis. Faz sentido, mas haverá tempo suficiente para preparar uma nova plataforma de ação política e governamental? Chegará o asco que cresce na sociedade civil, para encorajar os muitos que hoje acreditam que o país não tem saída sem uma recomposição do espectro partidário, que por sua vez induza alterações profundas nas filosofias de ação dos sindicatos e organizações empresariais, cívicas e culturais?
Uma coisa parece certa: a decisão que Cavaco Silva terá que tomar amanhã, domingo, ou durante a próxima semana, vai influenciar o ritmo do colapso ou da formação das bases sociais e políticas imprescindíveis à salvação nacional.
 

António Cerveira Pinto

NOTAS
  1. Cavaco avisou que novas soluções não dão as mesmas garantias que "salvação nacional". Jornal de Negócios, 19/7/2013, 21:44.
  2. E agora, o que vai o Presidente fazer? Público, 19/7/2013, 23:34.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cavaco, cagarra e calca-mar

Cavaco Silva segura um calca-mar bebé na ilhota Selvagem Pequena
Foto: Lusa/Miguel A Lopes

Cavaco, ou chamará outro dirigente do PSD a formar governo, depois da demissão de Passos, ou marcará eleições gerais antecipadas para setembro.

Aquele calca-mar perplexo nas mãos do presidente da república fez-me lembrar António José Seguro. A perda de credibilidade da moribunda coligação é tal que, ou muito me engano, ou Cavaco Silva já decidiu preparar o PS do perplexo Seguro para assumir as artes da governação mais cedo do que este quer e teme. Mas entalado como está, entre Passos e Soares, é bem possível que não lhe reste melhor alternativa do que entregar-se aos cuidados de um presidente farto de aturar os indescritíveis líderes do PSD e do CDS/PP.

O PS de Seguro pode perfeitamente negociar um acordo de salvação nacional com os partidos com quem sempre partilhou as decisões constitucionais e estratégicas ao longo das últimas quatro décadas. Um tal acordo não implica nenhuma capitulação face à governação desastrosa em curso. E beneficia da garantia de que o governo em funções será apeado pelo PR antes de terminar o mandato.

Escusa Mário Soares de vir agora com hipócrita verborreia esquerdista, mesmo assim temperada com o papão de uma cisão no PS vir favorecer o PCP — disse o próprio em aparente contradição com o seu recente e quase histérico frente populismo retardado. 

Um 'compromisso' histórico, ou de salvação nacional, balizado por metas claras, de médio e longo prazo, embora sem especificar a geometria e o calendário das medidas, é possível, lógico e necessário.

No entanto, as afirmações hoje proferidas por Passos Coelho, na Assembleia da República e no conselho nacional do PSD, a primeira desafiando Cavaco a aceitar a ignorada remodelação proposta por Portas, a segunda, reiterando que não aceita compromissos que não se traduzam na subserviência pura e simples do PS diante do moribundo governo que temos, e a terceira, que recusa aceitar a humilhação do fim antecipado desta legislatura decretado pelo presidente da república, dão claramente a entender que NÃO HAVERÁ COMPROMISSO!

Pois bem, neste caso, resta ao PR três hipóteses:
  • capitular perante o Jota laranja, o que não é nada verosímil da parte de quem já ganhou quatro maiorias; 
  • manter o governo em funções, recusando porém qualquer remodelação que signifique entregar o governo a Paulo Portas, e no caso de Passos se demitir, chamar outro líder laranja para formar governo; 
  • ou dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas, entregando a António José Seguro a tarefa de chefiar o próximo governo, o qual retomaria então os trabalhos agora iniciados em volta do 'compromisso de salvação nacional', proposto por Cavaco Silva, e que seria então negociado com um PSD já sem Pedro Passo Coelho, e com um CDS/PP já sem Paulo Portas.

Veremos quem se sai melhor desta Poker infernal.


ÚLTIMA HORA! 

Compromisso histórico morreu!

António Cerveira Pinto

Última atualização: 19/7/2013, 20:23

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Alcochete, só noutra encarnação

Sérgio Monteiro, o defensor público das PPP

Novo Aeroporto de Lisboa finalmente caiu!
Chegou de metropolitano, cuja ligação ao aeroporto de Lisboa começou a funcionar há precisamente um ano, para inaugurar o novo terminal internacional e de transferência de passageiros. Na manhã desta quarta-feira, o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, visitou aquele que, como fez questão de sublinhar, “é o novo aeroporto de Lisboa”, rejeitando totalmente a necessidade de construir um novo aeroporto no curto prazo. Público, 17/7/2013.
A inauguração, em setembro de 2011, do novo complexo de Carga do Aeroporto de Lisboa, e a inauguração esta semana do Novo Terminal Internacional e de Transferência no mesmo aeroporto, é a prova provada das mentiras técnicas com que o poder político corrupto deste país nos inundou de fantasias que acabaram em bancarrota.

Depois de centenas de milhões de euros atirados ao lixo, e muitos milhões de euros capturados a título de comissões e estudos da treta pelo Bloco Central da Corrupção, o NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) previsto para a Ota foi abandonado, o NAL de Alcochete, mais a fantástica cidade aeroportuária do adiantado Mateus, que sucederiam à derrota pública da opção Ota, são agora, por fim, adiados para as calendas gregas. E até a pista suplementar do Montijo, como opção de complementaridade da Portela, em caso de emergência ou dum improvável crescimento do tráfego no velho, seguro e muito conveniente Aeroporto de Lisboa, permanecerá em banho-maria. 

Depois do colapso do Lehman Brothers, em 2008, e sobretudo depois de a Troika ter iniciado o processo de resgate da bancarrota iminente do país, estes investimentos sem sentido, da insaciável máquina devorista que capturou a democracia, os partidos e os sucessivos governos, ficaram comprometidos.



A racionalidade dos mercados acabou por triunfar, dando razão plena a quem desde 2005 se vem opondo às sucessivas vagas de estudos pseudo técnicos de especialistas sem vergonha e decisões políticas comprometidas com os devoristas e os rendeiros piratas do regime. Foi preciso chegarmos à insolvência e à pré-bancarrota, foi preciso, até, uma crise política tão grave como a que está em marcha, para que fantasias populistas como a do inadiável NAL caíssem de vez.

Dos políticos corruptos, aos devoristas e opinocratas imbecilizados do regime, houve quase sempre uma conspiração silenciosa a favor do NAL desviando as atenções, nomeadamente dos populistas autarcas da Margem Sul, para o maldito TGV — uma quimera inventada pela classe política e pelos média mas que nunca existiu nos planos da Comissão Europeia. Existiu, sim, e continua a existir, uma prioridade à criação de redes de transporte interoperáveis, eficientes e sustentáveis do ponto de vista ambiental, da qual fazem parte, precisamente, portos e sistemas ferroviários coerentes (UIC), nomeadamente no uso de uma única bitola (distância entre carris) e sistemas de alimentação e sinalização compatíveis — a famosa ‘bitola europeia’.

Governo pressionado a concretizar compra de três dos doze aviões encomendados à Airbus A350-900
O secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, reiterou esta quinta que o processo de privatização da TAP ainda não foi “formalmente reiniciado” mas garantiu que o Governo mantém a intenção de “encontrar um parceiro privado” para a transportadora aérea. [...]

[...] “A privatização é uma necessidade para a empresa”, defendeu Sérgio Monteiro, acrescentando que a TAP “precisa de renovar a sua frota e aproveitar sinergias com outras companhias”. “Há um mercado potencial que não está a ser aproveitado”, disse o responsável. Negócios, 18/7/2013.

Depois de um ano em que acrescentou três novos destinos à operação, a TAP está a preparar o reforço do longo curso, o que implicará a compra de até três novos aviões. Uma estratégia para implementar nos próximos três anos e que consta do relatório e contas da TAP SA a que o Diário Económico teve acesso. Económico, 16/7/2013.

O BPI estima que o banco liderado por Ricardo Salgado tenha obtido resultados líquidos negativos de 71 milhões de euros, entre Abril e Junho. Negócios, 18/7/2013.
A TAP é provavelmente a maior mala diplomática segura do regime, bem como dos regimes amigos de Portugal, nomeadamente Angola e Brasil. Capisce?!

O poder político tem feito tudo para evitar a privatização da TAP, o que seria até louvável se tivesse, ao mesmo tempo, procedido a uma reestruturação dolorosa, mas estratégica da empresa (como vimos propondo há anos). No entanto, a TAP, sempre protegida pela obscura Parpública, é uma fonte de rendimentos obscuros infindáveis, pelo que também este governo chefiado por mais um Jota que nunca trabalhou na vida (tal como Sócrates) continua a fazer o que o BES e companhia lhe mandam.

Lista de encomendas da Airbus (documento oficial da empresa)
Todos escondem esta notícia (incluindo as catatuas parlamentares). 

O  BES é intermediário financeiro, com o Credit Suisse, da encomenda firme de doze aviões Airbus A350-900, a qual continua escancarada no Excel da Airbus. Não por acaso o Económico anunciou há dias que a TAP estaria a pensar comprar três aviões. A pensar?! Mas estão encomendados, e que eu saiba, nem Passos Coelho, nem o senhor Seguro, disseram até agora ao país depenado que governam e desgovernam, o que pensam fazer desta encomenda no valor de mais de DOIS MIL E QUINHENTOS MILHÕES DE EUROS!!!

Querem cortar 4,7 mil milhões de euros? Que tal começar por fechar o Banif e passar a posição de compra dos famosos A350-900 pela TAP a um interessado novo-rico que esteja no fim da lista de espera?

António Cerveira Pinto 

Última atualização: 19/7/2013, 12:00 WET 

Triunfo dos porcos?

ASN, A Fábula da Águia e do Porco, 2012

Fundador do euro quer enterrar a moeda única europeia

Oskar Lafontaine, um dos fundadores do euro quando era ministro das Finanças da Alemanha, pediu o fim do euro para deixar os países do Sul recuperarem. E sublinha que “os alemães ainda não perceberam que o sul da Europa, incluindo a França, será forçado pela sua miséria actual a lutar, mais cedo ou mais tarde, contra a hegemonia alemã.” Público, 6/5/2013.

Sempre se colocou a hipótese de a Alemanha abandonar o euro, a partir do momento em que verificasse não ter meios suficientes para prosseguir com o seu sonho hegemónico regional. O estado calamitoso dos bancos alemães, cujos buracos têm sido ocultados do olhar público, poderá dar lugar em breve a um desses famosos 'Momentos Minsky', e então, quando um tal colapso ocorrer, a moeda única europeia ficará seriamente ameaçada de morte.

No entanto, acabar com o euro seria uma estupidez e uma enorme derrota estratégica para a Europa no seu conjunto. Pior, seria abrir outra vez as portas ao nacionalismo intra-europeu e ao belicismo.

Há três correntes magmáticas de fundo que reforçam a presente corrida para o abismo por parte da maioria das economias desenvolvidas:
  1. a oferta agregada mundial é incapaz de satisfazer a procura agregada mundial, nomeadamente no que toca aos principais recursos naturais essenciais à civilização industrial: petróleo, carvão e gás natural abundantes e baratos; minerais vários e metais raros; água potável e terras aráveis de boa qualidade;
  2. a compensação para o declínio industrial do Ocidente, tentada pela via da educação permanente, cuja empregabilidade se revelou, porém, decrescente, pela via da expansão da economia dos serviços, do consumo conspícuo, da inflação monetária e sobretudo do crédito sem regras e a taxas de juro próximas do zero, chegou ao fim;
  3. o envelhecimento demográfico do Ocidente, mas também do Japão e da própria China, é um sinal claro de que estamos no limiar de um colapso de paradigmas sem precedentes, sobretudo no entendimento 'moderno' que temos de 'crescimento', 'desenvolvimento' e 'estado social'.
Estamos a viver o fim de um longo período de crescimento rápido e inflação (1900-2020?). Mas não sabemos ainda por onde, como e quando começará a nova era, porventura mais equilibrada, mais cooperante e mais criativa do que a que hoje continua ligada à máquina da ilusão financeira.

Uma saída do euro seria apenas mais uma experiência com as cobaias fracas da União Europeia. E, no caso de Portugal, conduzir-nos-ia de vez ao fim de quatro décadas de democracia imperfeita. Seria, em suma, um verdadeiro triunfo dos porcos!

António Cerveira Pinto

domingo, 14 de julho de 2013

O próximo governo

Nicolau Maquiavel, retrato por Santi de Tito

Príncipes com orelhas de burro

Mário Soares promoveu uma frente populista cujo objetivo foi desde início derrubar o governo de coligação existente, a pretexto da instabilidade que a própria fronda soarista se encarregou de promover ou intensificar com a ajuda preciosa do PCP e dos sindicatos 'comunistas' e 'socialistas'.

Perante esta ofensiva, o rapaz que substituiu José Sócrates na chefia do PS, António José Seguro, foi obviamente entalado, tendo-se agarrado a uma tábua de salvação retórica: a ladainha das eleições antecipadas, invocando que o atual governo cumpriu pessimamente os termos do Memorando (o que é verdade), hostilizou desde o primeiro minuto o líder da Oposição e o PS (o que é verdade) e lançou o país numa espiral recessiva e de empobrecimento galopante (o que também é verdade).

Contudo, aquilo que menos interessa ao PS é uma antecipação das eleições legislativas enquanto não ficar completamente claro entre os eleitores que o PSD e o CDS continuarão a liquidar o país se não forem corridos do governo na primeira oportunidade, mas na primeira oportunidade própria de um regime plenamente democrático, e não através de golpes. Ou seja, derrubar este governo legítimo por meios golpistas, ainda que legais, nomeadamente através de uma pressão tremenda sobre o presidente da república, jogaria sempre contra a aproximação do PS de uma possível nova maioria absoluta. Por outro lado, as próximas eleições autárquicas e europeias serão excelentes ocasiões para António José Seguro construir a sua futura maioria com tempo, consolidando a liderança, atraindo dirigentes e personalidades sem filiação partidária, e aprendendo até lá o muito que lhe falta aprender para ser um verdadeiro líder e possível primeiro ministro.

Cavaco Silva conhece perfeitamente a situação em que se encontra o líder do PS, e sabe que José Sócrates veio de Paris para retomar o poder dentro do PS e afastar Seguro do sítio onde está, em nome do muito que está em causa nas tríades de que o senhor Pinto de Sousa é a testa de ferro.

Paulo Portas, por sua vez, sabe que o CDS/PP recairá no partido-táxi se nada fizer até às Autárquicas, primeiro momento da sua previsível derrocada. Daí ter aproveitado a demissão e a carta armadilhada de Vítor Gaspar a Passos Coelho, sob o pretexto de não gostar da nova ministra das finanças, para se demitir irrevogavelmente, no que interpreto como tendo sido o mais ousado bluff que a política portuguesa conheceu nas últimas décadas. Através deste bluff, que Passos de Coelho aceitou inexplicavelmente, certamente mandado pelas máfias e tríades do costume, e que são as mesmas que mandam em José Sócrates, o CDS/PP tomaria de assalto o lombo do governo, e a partir desta conquista reconfiguraria toda a direita portuguesa. Se a operação não tivesse sido abortada por Cavaco Silva, em breve veríamos Paulo Portas despachar o pobre Passos de Coelho, como outrora despachou aquela ave rara chamada Manuel Monteiro, depois de o seduzir, claro.

Se o bluff de Portas não tivesse sido desmascarado pelo cold call de Cavaco, não só o PSD entraria imediatamente em convulsão interna, mas também o próprio PS seria atingido pelo início do que mais cedo ou mais tarde acabará por ocorrer no sistema partidário português, isto é, uma reconfiguração profunda do mesmo, com o provável aparecimento de uma ou duas novas forças partidárias credíveis com vocação parlamentar e de governo. Seguro tem pois boas razões para agradecer ao presidente da república a sua sobrevivência próxima.

Entretanto, Cavaco Silva deu cabo da coligação governamental de um modo verdadeiramente digno de Maquiavel (1). Condenou-a a uma morte súbita depois de cumprido o prazo do memorando e de a Troika sair do país, em nome da exigência das eleições antecipadas insistentemente pedidas pelo PS, libertando assim António José Seguro para outras retóricas mais construtivas.

Ao mesmo tempo, e aqui está o requinte, Cavaco Silva obriga o governo PSD-CDS/PP a seguir em funções tal como está, numa espécie de governo de gestão balizado pelo refrescamento do compromisso existente entre os três partidos que assinaram o memorando da Troika. Assim como o PSD e o CDS subscreveram, a pedido do PS, e em nome do interesse nacional, o Memorando dos credores, seria incompreensível que o PS agora não aceitasse assinar um reforço do mesmo compromisso em nome da verdadeira emergência financeira, económica e social em que o país se encontra dois anos depois de uma governação que nada fez para atacar os grandes chulos enquistados no regime.

Obviamente que o PS, para aceitar reforçar o compromisso do Memorando, imporá condições. E Cavaco Silva cá estará para o apoiar nas negociações com o PSD e com o CDS/PP!

O cenário previsto pelo inesperado Maquiavel de Belém começa, pois, a ficar claro: Seguro à frente do PS, Passos de Coelho corrido após as três derrotas eleitorais sucessivas que o esperam, idem para a liderança do CDS/PP.

Ou seja, o presidente da república, sem sair do seu condicionalismo institucional, iniciou verdadeiramente um programa de preparação do primeiro governo pós-Troika.

Que governo será esse? Um de três: governo maioritário do PS; governo de coligação com um CDS/PP sem Portas; novo governo de Bloco Central; ou ainda uma coligação do PS com nova força partidária. Em todo o caso, porém, Cavaco Silva crê e apoia desde já o regresso do PS à liderança governativa, desde que António José Seguro mantenha devidamente acantonadas as tropas de José Sócrates.

Por fim, se Passos de Coelho ou Portas inviabilizarem o compromisso de salvação nacional exigido pelo presidente da república, então terão que demitir-se. E aí, Cavaco Silva poderá chamar de novo o PSD a formar governo, mas já com Passos fora do caminho. Portas, num cenário destes, não resistiria aos poucos que no CDS/PP têm os neurónios a funcionar e não temem o fraco chefe.

Conclusão

A coligação fez uma proposta inaceitável a Cavaco, e Cavaco respondeu à provocação com uma proposta simetricamente inaceitável. Logo, o governo não será remodelado e continuará a arrastar-se até às Autárquicas, após as quais Passos Coelho e Portas morrerão como lideres partidários. Ou então, perante a recusa presidencial de remodelar uma coligação cujos partidos se recusam a celebrar um compromisso de salvação nacional nos termos propostos por Belém, Passos Coelho acaba por pedir a demissão, e o PR convoca então o PSD a apresentar uma alternativa para a chefia do governo e subsequente remodelação. Portas tentará sobreviver ao naufrágio.
 


PS: algumas almas ofendidas acusam Cavaco Silva de não convidar o PCP, nem o Bloco, para a formação do compromisso de salvação nacional. A acusação é hipócrita pelas seguintes razões: 
  • comunistas, estalinistas e trotsquistas recusaram desde sempre qualquer relacionamento com a Troika de credores; 
  • o PCP e o BE mantiveram desde o início do programa de intervenção externa uma postura de afrontamento permanente contra a Troika; 
  • e, por fim, Louçã, Jerónimo, Catarina e Semedo (a par de alguns sindicalistas e da fronda Soarista) têm estimulado grupos de arruaceiros organizados à prática contínua de ofensas ilegais à integridade institucional da Assembleia da República e do governo, até ao ponto de promoverem ações sistemáticas de acosso pessoal junto de governantes e do próprio presidente da república.
Os caciques da velha 'esquerda' estalinista e trotsquista recauchutada, incluindo Mário Soares, adotaram claramente uma estratégia de terra queimada. Não percebem, pelos vistos, que o seu comportamento estimula cada vez mais os fantasmas da violência fascista e comunista dos tempos em que o Capitalismo crescia à força de revoluções sociais e tecnológicas violentas. O tempo que atravessamos, porém, é muito diferente. Globalmente caminhamos para uma era de equilíbrio, de crescimento residual, de busca criativa e incessante de equilíbrios e justiça social, onde o radicalismo marxista-leninista, o estalinismo e o fascismo deixaram de ter lugar. A não perceberem que a História mudou, o seu maniqueísmo primário só terá uma consequência a prazo: a expulsão eleitoral do PCP e do Bloco do paraíso parlamentar e burocrático onde têm vivido e medrado ao longo das últimas décadas.

António Cerveira Pinto

NOTAS
  1. Cavaco Silva, do discurso de 10 de julho:

    “Primeiro, o acordo terá de estabelecer o calendário mais adequado para a realização de eleições antecipadas. A abertura do processo conducente à realização de eleições deve coincidir com o final do Programa de Assistência Financeira, em j unho do próximo ano.

    Em segundo lugar, o compromisso de salvação nacional deve envolver os três partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento , garantindo o apoio à tomada das medidas necessárias para que Portugal possa regressar aos mercados logo no início de 2014 e para que se complete com sucesso o Programa de Ajustamento a que nos compromete mos perante os nossos credores.

    A posição negocial de Portugal sairia reforçada, evitando novos e mais duros sacrifícios aos Portugueses.

    Em terceiro lugar, deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já, que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego.

    É essencial afastarmos do horizonte o risco de regresso a uma situação como aquela que atualmente vivemos.”

    Comunicação ao País do Presidente da República
    Palácio de Belém, 10 de julho de 2013

    Discurso completo.

Última atualização: 15/7/2013 00:47