A volúpia da Inquisição |
Vá lá, confesse que mentiu...
A senhora sabia. E tanto sabia que andou a negociar a redução dos prejuízos.
Na realidade, Maria Luís Albuquerque sabia, mas só soube o suficiente para agir depois de ter requisitado aos serviços e direções-gerais (que não são governo) a necessária informação, que o governo anterior não prestou, e ter chegado à conclusão que, em vez de 146 contratos swap de que se falava por aí, afinal existem mais de 250!
Por outro lado, ninguém do anterior governo, José Sócrates, ou Teixeira dos Santos (o resto da corja é irrelevante neste caso), responsáveis pela maioria dos contratos de endividamento escondido que agora estamos a pagar com impostos, cortes nas pensões, reduções de salários e perdas de emprego, comunicou em um único papel que fosse a existência, natureza e número dos ditos swaps, e muito menos a dimensão e gravidade do problema que os mesmos supõem para a credibilidade do estado português. O mais que fizeram foi avisar informalmente e apenas verbalmente Vítor Gaspar, e nunca Maria Luís Albuquerque, que havia uns problemas com swaps.
Resumindo: o anterior governo procedeu ou deu instruções a empresas públicas e direções-gerais para procederem a duas centenas de contratos de endividamento dissimulado.
E precisamente porque se tratou de recorrer a instrumentos de endividamento clandestinos, a sua existência não poderia ter sido comunicada por escrito na pasta de transição do governo anterior, sob pena de termos agora lenha suficiente para sentar imediatamente José Sócrates, Teixeira dos Santos e a turma de desgraçados que lhes obedeceram, no banco dos réus.
Maria Luís Albuquerque não mentiu e, além do mais, negociou e continua a negociar para reduzir as perdas potenciais dos ditos swaps.
O anterior governo, pelo contrário, sim, mentiu aos portugueses, mentiu ao Eurostat e escondeu informação concreta ao governo de Passos Coelho, fornecendo-lhe apenas um lamiré sobre o potencial destrutivo dos swaps contratados desde 2003, deixando a Vítor Gaspar a tarefa de descobrir os meandros da galeria de buracos orçamentais dissimulados cavada pelo governo 'socialista'.
A geração parlamentar que tem vindo a perseguir Maria Luís Albuquerque faz-me lembrar cada vez mais o barro doente de que se fizeram em Portugal ao longo dos séculos as tropas galdérias da Inquisição e do Salazarismo.
Curiosamente, mais de 87% dos membros da comissão de inquérito parlamentar ao caso dos swaps pertence à chamada Geração X. Sobre as características desta geração vale a pena ler The Fourth Turning, e em particular percorrer este fórum sobre a dita geração.
A minha geração, a dos babyboomers --Guterres (n. 1949), Durão Barroso (n. 1956), José Sócrates (n. 1957)-- é largamente responsável pela 'largesse' despesista e consumista que nos conduziu ao desastre. Mas a mimada geração que entretanto chegou ao poder --Pedro Passos Coelho (n. 1964), António José Seguro (n. 1962) e Paulo Portas (1962)-- conhecida como a Geração X, vai ter que aprender depressa com a nova crise, ou ceder o seu lugar, muito antes do expectável, à próxima geração, a chamada geração do milénio.
António Cerveira Pinto
Última atualização: 31/7/2013 10:48 WET
A integração da cena "inquisitória" é fantástica!
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