Propaganda às Obrigações soberanas japonesas |
Vai ser necessária muita imaginação
O segundo resgate vem aí. E mais austeridade também. Como o acesso aos mercados é sonho adiado, vai ser necessário vender os famosos títulos de dívida pública portuguesa aos... portugueses!
A dúvida é óbvia: haverá interessados?
É bem possível que sim, sobretudo se não houver alternativas para a aplicação das poupanças, ou se as que houver forem ainda piores e mais arriscadas. Os paraísos fiscais estão cada vez menos convidativos, a união bancária e fiscal europeia está a caminhar apesar de não parecer e ainda que nesta fase caminhe sobretudo através de leis nacionais. Em Espanha, por exemplo, já é obrigatório declarar os ativos que os residentes detenham fora do país, para efeitos estatísticos — dizem as autoridades do país vizinho.
A deterioração da situação financeira portuguesa, cortesia da nomenclatura extrativa, rendeira, corporativa, burocrática e partidocrática, e ainda da Fronda Soarista e das partes gagas de Paulo Portas, vai deixar os cofres públicos à míngua.
A consequência desta degradação serão novos aumentos de impostos (IVA a 25% é perfeitamente expectável), mais cortes nos rendimentos do trabalho, encerramento de algumas centenas de departamentos da administração pública, e ainda uma pressão enorme para canalizar parte da poupança privada para a compra de dívida pública. Não custa nada temer estes cenários.
O ideal seria que a situação fosse bem explicada, e que as medidas fossem ponderadas de forma a haver uma evidente justiça na distribuição dos sacrifícios. O ideal mesmo seria diminuir drasticamente os graus de liberdade dos beneficiários sistémicos deste sistema falido. Veremos o que a nossa indigente classe política nos reserva nas próximas semanas e meses.
Seja como for, fazemos uma previsão: o estado vai ter que encontrar maneira de vender dívida soberana aos contribuintes. E nós teremos que estar informados e preparados para exigir muitíssima clareza e proteção, nomeadamente do Banco de Portugal e do BCE, nas operações que vierem a ser desenhadas e desencadeadas.
António Cerveira Pinto
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