segunda-feira, 24 de junho de 2013

2008-2.0?

A velha-nova Xangai vista de Pudong.

Tempestade financeira regressa em força

Bolsa de Xangai: SSE Composite fecha em queda de 5,3%Yahoo Finanças, 24 jun 2013.

Banca afunda bolsa nacional para mínimos de Dezembro

A bolsa nacional acentuou a tendência de perdas, encontrando-se agora a cair mais de 2%, com uma forte pressão da banca, em especial BCP e BES que recuam mais de 5% — in Jornal de Negócios, 24 jun 2013.

Os bancos temem o fim do dinheiro fácil dos bancos centrais. A ameaça de insolvência regressa para muitos deles. Desta vez não haverá resgates criminosos, como o do BPN.

Ben Bernanke anunciou a diminuição temporária do torrencial de liquidez que tem alimentado artificialmente as bolsas, os bancos e os governos de todo o mundo; o Eurogrupo anunciou, por outro lado, que futuros resgates, nomeadamente de bancos, contará com o chamado 'bail-in', ou seja, uma responsabilização prévia dos detentores de obrigações dos bancos e até depositantes com contas superiores a 100 mil euros, antes de passar a fatura, como têm feito até agora, aos contribuintes, sem passar pela casa de partida, ou seja, pelos investidores e especuladores que financiaram as lógicas aventureiras (e por vezes criminosas) das instituições bancárias e financeiras que se dedicaram ao crédito fácil armadilhado com os famosos produtos complexos (chamados 'tóxicos'): os Credit Default Swaps, CDS, ou SWAP.

O dinheiro que se dirigiu para os mercados emergentes tenderá a retrair-se desses mercados, e por esta via, as empresas, nomeadamente da construção, energia e telecomunicações, que divergiram parte substancial da sua atividade para estes mercados, já estão a sofrer fortes quedas em bolsa, e poderão em breve voltar a ter graves problemas de insolvência por resolver, pressionando  ainda mais os bancos entretanto forçados a uma dieta de dinheiro fácil por parte da FED, do BCE e do próprio PBOC. Veremos até onde dura a anunciada quarentena do Quantitative Easing e do LTRO. Para já, os juros das dívidas soberanas reiniciam movimentos de subida, forçando um ajustamento ainda mais brutal da despesa pública. Os governos vão ter mesmo que encontrar maneira de encolher sem perder a cabeça! Crescimento? Talvez, mas não pela via do consumo público direto e indireto.

Bancos e mais empresas serão forçadas a fechar portas. Mais fusões a caminho. Onde irá agora a EDP financiar a sua gigantesca dívida? Em Pequim? Mas não era esse o objetivo dos chineses! Finalmente, as tensões entre estados e entre regiões estratégicas podem assumir rapidamente formas violentas de nacionalismo económico. Um verão quente no horizonte e um outono possivelmente explosivo em várias partes do planeta.

O forte abalo de hoje na bolsa de Xangai é o efeito imediato de o Banco Popular da China ter anunciado, em linha com a FED e com o BCE, e sobretudo com a declaração do BIS (ver citação abaixo), que os níveis de liquidez na economia chinesa eram suficientes, e que os bancos deveriam controlar eles mesmos os riscos de liquidez assumidos.


O buraco negro de derivados OTC (especulativos) começa finalmente a assustar bancos centrais e governos de todo o mundo. Por outro lado, por mais liquidez que se crie, o endividamento público continua a crescer, o desemprego continua a crescer e o abrandamento e estagnação das economias instalam-se num número crescente de países.

Esta declaração de Jaime Caruana, do (banco dos bancos) Bank of International Settlements (BIS), proferida ontem, dia 23 de junho, resume bem o que aí vem...

Can central banks now really do “whatever it takes”? As each day goes by, it seems less and less likely... Six years have passed since the eruption of the global financial crisis, yet robust, self-sustaining, well balanced growth still eludes the global economy. If there were an easy path to that goal, we would have found it by now.

Monetary stimulus alone cannot provide the answer because the roots of the problem are not monetary. Hence, central banks must manage a return to their stabilisation role, allowing others to do the hard but essential work of adjustment.

Many large corporations are using cheap bond funding to lengthen the duration of their liabilities instead of investing in new production capacity.

Continued low interest rates and unconventional policies have made it easy for the private sector to postpone deleveraging, easy for the government to finance deficits, and easy for the authorities to delay needed reforms in the real economy and in the financial system.

Overindebtedness is one of the major barriers on the path to growth after a financial crisis. Borrowing more year after year is not the cure...in some places it may be difficult to avoid an overall reduction in accommodation because some policies have clearly hit their limits.

— in ZeroHedge (o pdf do BIS está disponível neste artigo)


António Cerveira Pinto

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