A rebelião das massas alastra no Brasil
Carla Dauden: “No, I m not going to the world cup”
As manifestações nas ruas de São Paulo apontam para um distanciamento da forma tradicional de se fazer política. A retumbante vaia, na última segunda-feira, dirigida a um pequeno grupo que portava bandeira de um determinado partido de esquerda, é a expressão de um sentimento de descrédito em relação aos partidos e repúdio a política, sentimento que vai além dos que estavam na manifestação. A percepção de que os partidos, não importa a cor, quando no poder abandonam suas bandeiras transformadoras ou não, e passam a síndicos da burguesia e administradores da crise socioeconômica, girando e manipulando em torno de seus interesses excludentes em relação ao conjunto da sociedade, difunde-se rapidamente principalmente entre os jovens. O movimento que se articula em claro confronto com as formas ardilosas das políticas partidárias, deve estar pondo a velha esquerda em pavorosa ao sentir o mar, que antes navegava e manipulava a vontade, revolto e sem controle — in Rumores da Crise, por Rall.
O problema mesmo é que as massas não se mobilizam por análises, mas sim por causas, necessidades e interesses.
Até agora as guerras e as revoluções ocorreram sempre que houve um prémio à vista. Neste momento não há:(
Logo, espera-nos uma fase de destruição imparável da procura agregada, pois a oferta agregada já não consegue responder à demografia e ao maior poder de reivindicação de uma parte imensa do mundo que, felizmente, se foi libertando da espoliação colonial.
A esquerda, toda a esquerda, está tão aflita como as direitas. Simplesmente não sabem o que fazer, para lá de defenderem com unhas e dentes o património, pequeno ou grande, acumulado. A biopolítica em curso dos diversos grupos sociais e de poder restringe-se cada vez mais a objetivos de defesa imediata dos territórios conquistados.
Encetar um processo de reconstrução partidária talvez seja um caminho viável, apesar de toda a desconfiança legítima existente relativamente aos partidos. É o momento de experimentar uma heurística em volta da refundação das democracias, tendo ainda em vista o papel que os partidos políticos, sobretudo novos partidos políticos, poderão ainda desempenhar, a par das novas instituições da sociedade civil e das redes sociais.
António Cerveira Pinto
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