sábado, 17 de agosto de 2013

Jerónimo Martins, parabéns!

Fachada de loja Biedronka, Polónia
Foto: Jerónimo Martins
Jerónimo Martins & Francisco Manuel dos Santos criaram uma empresa com mais de 220 anos de história
A Jerónimo Martins surge em 16.º lugar na lista das empresas mais inovadoras que a Forbes publica anualmente. É a única empresa portuguesa na tabela e surge à frente de multinacionais conhecidas pela inovação como o Google e a Apple. Público, 16/08/2013 - 21:18 WET.
É a coisas como esta —a Jerónimo Martins, do galego com o mesmo nome que chegou a Lisboa em 1792 para montar uma modesta tenda no Chiado— que Nassim Nicholas Tabeb, o autor de O Cisne Negro, chama “anti-frágil”. Lembro-me de ter feito inúmeras compras na mercearia fina da Jerónimo Martins, nos idos anos 60 e 70 do século passado. A sua montra regalava os olhos e era difícil resistir, apesar de muitas das iguarias importadas, pelo preço, raramente passarem do namoro platónico ao festim.

Quando começaram a proliferar os hipermercados, ou ‘shopping malls’, em Portugal, ameaçando o negócio de milhares de mercearias como a da Jerónimo Martins, que acabaria em chamas no pavoroso Incêndio do Chiado, esta respondeu com uma cadeia de supermercados de bairro.  Hoje, com o vigoroso renascimento do comércio local, nomeadamente na Baixa Pombalina e Avenida da Liberdade acima, quando encher um depósito de gasolina ultrapassa os 100 euros, revelou-se uma aposta certa e cada vez mais identificada com a ideia de comércio justo e sustentabilidade.

A Jerónimo Martins é a principal empresa do PSI20, tendo recentemente ultrapassado a própria GALP, mesmo depois do grande investimento desta petrolífera numa nova refinaria em Sines. Está em Portugal, na Polónia e na Colômbia. É a distribuidora dos famosos gelados Olá. Quem nunca os provou? Ou quem nunca comprou uma garrafa de Azeite Gallo?

Pingo Doce, Joaninha, Arara são as aves inspiradoras de uma empresa que nasceu no ano em que a Revolução Francesa instaurou a República e cantou pela primeira vez a Marselhesa. A mesma empresa que, em 1851, celebrou com o intelectual desiludido Alexandre Herculano um contrato minucioso de fornecimento de ‘azeite fino’ produzido na propriedade do grande historiador. A preocupação com a qualidade e origem do produto ficou exemplarmente exarada no contrato: “quaisquer amostras que tragam o meu nome, quer só, quer associado com outro, são completamente falsas”.

Em tempos de grande fragilidade é bom ver reconhecida uma empresa portuguesa, não apenas pela sua longevidade, critério muito caro a Nassim Taleb, mas sobretudo pela sua capacidade de inovação!

PS: colocaram-me a questão da deslocalização da sede da holding para a Holanda. Não conheço o assunto, mas creio que a JM devolve ao Estado o IVA do que vende, realiza as devidas contribuições sociais pelos milhares de trabalhadores que emprega, e também pagará IRC em Portugal. Resta o problema da deslocalização dos lucros. Como desconheço o detalhe, não comento. Mas em geral, a minha posição é clara e não mudou: condeno a fiscalidade portuguesa por ser autoritária, excessiva e desigual. Se é possível evitar legalmente a expropriação fiscal, que nos impede de agir racionalmente?

António Cerveira Pinto

Sem comentários:

Enviar um comentário