Rei D. Sebastião, autor desconhecido, ca. 1608 |
O tiro ao alvo prossegue sob a batuta de Portas
Governo alega que apresentação do Citigroup foi "falseada" para incluir nome de Pais Jorge — Jornal de Negócios, 7/8/2013.
O Executivo diz que o documento que foi disponibilizado a alguns órgãos de comunicação social foi “falseado” de forma a incluir “o nome de Joaquim Pais Jorge” na apresentação que o Citigroup fez ao Executivo que tinha como objectivo a venda de produtos financeiros. Algo que é considerado pelo Governo de "política intolerável".
Os sete dias que atiraram Joaquim Pais Jorge para fora do Governo (act) — Jornal de Negócios, 7/8/2013.
Sete dias teve Agosto. Sete dias esteve Joaquim Pais Jorge sob pressão. Tudo começou num artigo da revista “Visão”. Na explicação à peça, houve “inconsistências”. Também houve uma averiguação interna do Governo. Esta é a história dos últimos dias de Joaquim Pais Jorge na secretaria de Estado do Tesouro.
O assalto do Bloco Central ao aparelho de estado prossegue, com o apoio de toda a nomenclatura oportunista do regime, para quem os independentes no governo se tornaram demasiado incómodos.
Vale tudo! Mas fica a pergunta: quem é que andou a falsificar as contas públicas ao longo de quase uma década? E quem é que sabendo, nomeadamente no parlamento, colaborou na dissimulação do agravamento criminoso do défice e das dívidas pública e externa até que a iminência de uma bancarrota forçasse Portugal a um resgate financeiro violento que mais não é do que uma flagrante perda de soberania?
O Bloco Central procura desesperadamente manter-se à tona, mas perdeu a cabeça. Só falta agora saber quando a veremos cair do alto da sua incomensurável arrogância e estupidez.
Já se percebeu que os devoristas do regime não descansarão enquanto não despedirem Maria Luís Albuquerque. Paulo Portas tem consigo todos os aliados que possamos imaginar, dos barões laranjas da Linha, à bancada do PCP e do Bloco, passando por um PS cada vez mais condicionado pelo governo sombra de José Sócrates, a quem a insolvente televisão pública que pagamos mensalmente —e que mesmo assim continua a agravar o défice— ofereceu um púlpito.
Este triunfo dos porcos visa, apesar da hipocrisia dos discursos e dos esgares, abater dois alvos muito precisos: Pedro Passos Coelho (1) e António José Seguro. Não podemos prever como é que estas criaturas desajeitadas responderão à monumental pressão que sobre elas pesa. Se Maria Luís Albuquerque cair, saberemos que a conspiração do Bloco Central vai de vento em popa. Se resistir, será também um indicador, neste caso, de esperança na mudança de gerações.
Precisamos de ver a floresta para além das árvores, suspendendo por um momento a fulanização e a telenovela política alimentada pelos média.
A geração dos 'baby boomers' e a anterior (dita 'silenciosa') não querem largar o poder, porque têm muito a perder, alguns até têm contas várias e volumosas com a justiça.
Pedro Passos Coelho e o António José Seguro, bem como Maria Luís Albuquerque e Miguel Poiares Maduro, entre outros, são representantes típicos da Geração X, com tudo o que se possa pensar sobre a dita, de bom e de mau. A sua utilidade para os que, como nós, apostam numa renovação do regime, é instrumental, ou seja, devem abrir caminho à malta nascida depois de 1960...
Paulo Portas também é um X, mas por motivos que só ele sabe, anda de mãos dadas com os piratas das duas gerações que o precederam.
Pedro Passos Coelho é o primeiro X a chegar a PM, e António José Seguro será provavelmente o segundo. Paulo Portas acabará por ficar pelo caminho, a menos que a conspiração em curso para derrubar o primeiro ministro em funções e o que presumivelmente lhe sucederá triunfe a favor dos velhos... o que seria péssimo para todos nós.
A minha dedução é simples: se os Xs resistirem e consolidarem o poder a que já acederam parcialmente, mas para o que precisarão ainda de abrir mais portas aos ilustres emigrantes, e sobretudo à geração seguinte, nascida depois de 1980 e conhecida por Geração Milénio, ainda teremos hipóteses de preparar o país para as necessárias transições que o futuro próximo nos exigirá sob pena de, se o não conseguirmos, entrarmos em colapso.
Se, pelo contrário, a conspiração dos que criaram o problema triunfar, não tardaremos a ouvir uma proliferação de sombras clamando por um novo salvador da pátria. Este, se vier a ser chamado pelo povo em desespero, proporá um novo pacto de regime à discussão e à votação populares. Depois reforçará a sua posição e legitimidade fazendo aprovar no parlamento uma nova constituição, que em seguida submeterá a referendo, na sequência de estrondosas maiorias absolutas —a primeira dando-lhe um parlamento e um governo harmónicos, e a segunda, um presidente.
Convém não esquecermos que a constituição da república votada em 1975 nunca foi referendada, tornando-se por esta omissão inadmissível um documento partidário e o primeiro entorse da partidocracia que temos.
Vendo a floresta deste ângulo, a fulanização diariamente fomentada pela indigente imprensa que temos, torna-se irrelevante. Podemos não gostar de Seguro, ou odiar mesmo Pedro Passos Coelho pelo que tem feito desde que é poder. Podemos execrar em geral a classe política, os governantes e a alta burocracia. Sim, podemos odiar esta corja toda. Mas se ficarmos por aqui, apenas estaremos a comer na mão de quem nos manipula. Hoje, mais do que nas últimas três décadas, precisamos de cabeça fria, e de cálculo político. Quem nos trouxe até ao resgate não pode ser boa escolha para futuro. Quem herdar a tarefa de gerir a pesada herança, que afinal é uma dívida impagável sem o sacrifício literal de milhares de portugueses que morrerão mais cedo (de doença, de pânico, de tristeza), será sempre incompreendido e mal tratado por todos nós. Pudera, estão a roubar-nos o contrato social!
Mas ainda assim, temos que nos organizar, temos que ordenar friamente as nossas prioridades. Precisamos de prescindir de algumas coisas importantes a que estávamos habituados, por vezes mesmo, mal habituados. Estamos ou não dispostos a discutir esta emergência?
Eu prefiro sinceramente acreditar que é possível e preferível mudar a Constituição e salvar a Democracia, do que deixar o país escorregar para uma nova ditadura. Mas ninguém consegue adivinhar o futuro.
- ÚLTIMA HORA — SIC diz que documento alegadamente forjado veio da residência oficial do PM. Jornal i/Lusa, 7 Ago 2013-22:51. Nem de propósito!
POST SCRIPTUM (18-08-2013)
Gerações
Aproveito para reproduzir uma nota de leitura, escrita em outubro de 2009 (alguns dos nomes foram acrescentados mais tarde), que resume um possível retrato das gerações portuguesas olhadas a partir de alguns dos seus protagonistas, nomeadamente nas áreas da política e da economia, e em menor grau, da cultura e do desporto. Creio que perceberemos melhor as dinâmicas em curso no sistema partidário português depois de olharmos para a lista que se segue.
Aplicando grosseiramente a cronologia das "grandes descontinuidades" (ekpyrotic model) elaborada por William Strauss e Neil Howe ao caso português, poderemos olhar para os protagonistas da grande crise que vai de 1961 (início da luta armada nos ex-territórios coloniais portugueses) a 1974-76 (golpe de Estado militar seguido de uma crise pré-insurreccional e estabilização constitucional), enunciando as correspondentes gerações até ao início deste século. A lista de protagonistas é meramente indicativa.
G.I.Generation/ Hero (Civic) - 1901-1924
Adquirem consciência política entre a Grande Depressão, a ditadura Salazarista, a Guerra Civil Espanhola e a II Guerra Mundial. Iniciam os confrontos que levarão ao fim da ditadura Salazarista.
Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Adelino da Palma Carlos (1905-1992)
Humberto Delgado (1906-1965)
Adolfo Casais Monteiro (1908-1972)
António Spínola (1910-1996)
Álvaro Cunhal (1913-2005)
Francisco Costa Gomes (1914-2001)
José Pinheiro de Azevedo (1917-1983)
Jorge de Sena (1919-1978)
Eduardo Mondlane (1920-1969)
Agostinho Neto (1922-1979)
Vasco Gonçalves (1922-2005)
Francisco Salgado Zenha (1922-1993)
Amílcar Cabral (1924-1973)
Mário Soares (1924-)
Silent Generation/ Artist (Adaptive) - 1925-1942
Adquirem consciência política durante a II Guerra Mundial, a Guerra Fria e os movimentos anti-coloniais na Ásia e em África. Desencadeiam a oposição institucional à ditadura Salazarista, e finalmente o golpe militar que em 24 horas a derruba (1974).
António Almeida Santos (1926-)
Maria de Lourdes Pintassilgo (1930-2004)
Medina Carreira (1931-)
Álvaro Siza Vieira (1933-)
Ernesto Melo Antunes (1933-1999)
Francisco Sá Carneiro (1934-1980)
Jonas Savimbi (1934-2002)
Américo Amorim (1934-)
Helena Almeida (1934-)
António Ramalho Eanes (1935-)
Jorge Jardim Gonçalves (1935-)
Paula Rego (1935-)
Magalhães Mota (1935-2007)
Jaime Neves (1936-)
Manuel Alegre (1936-)
Otelo Saraiva de Carvalho (1936-)
Francisco Pinto Balsemão (1937-)
Ângelo de Sousa (1938-2011)
Belmiro de Azevedo (1938-)
Aníbal Cavaco Silva (1939-)
Jorge Sampaio (1939-)
Manuela Ferreira Leite (1940-)
Artur Santos Silva (1941-)
José Eduardo dos Santos (1942)
Vasco Lourenço (1942-)
(Baby) Boom Generation/ Prophet (Idealist) - 1943-1960
Adquirem consciência política com a Revolução Cubana, a ocupação e fim do Estado Português da Índia, o início da guerra colonial na África Portuguesa, a eleição de John F. Kennedy para a presidência dos EUA, a crise dos mísseis em Cuba, a Guerra do Vietnam, a cultura Hippie e Pop e os movimentos estudantis radicais da década de 60. São protagonistas decisivos no eclodir da crise social, política e militar que conduz ao 25 d Abril. O seu idealismo radical afasta-os, porém, da condução da política, que viria a ser protagonizada por uma aliança pragmática entre a geração de Álvaro Cunha a Mário Soares e a geração silenciosa, que com vagar e prudência lá foi alinhado com a transformação do regime. Esta geração só a partir da década de 80 acede ao patamar da liderança política e cultural
Alberto João Jardim (1943-)
Mota Amaral (1943-)
Vítor Constâncio (1943-)
Capitão Salgueiro Maia (1944-)
José Luís Saldanha Sanches (1944-)
Manuel Salgado (1944-)
Joe Berardo (1944-)
Ricardo Salgado (1944-)
Capitão Diniz de Almeida (1945-)
Angelo Correia (1945-)
Joaquim Ferreira do Amaral (1945-)
Ruben de Carvalho (1947-)
Jerónimo de Sousa (1947-)
Helena Roseta (1947-)
Julião Sarmento (1948-)
Marcelo Rebelo de Sousa (1948-)
António Guterres (1949-)
José Pacheco Pereira (1949-)
António Cerveira Pinto (1952-)
Fernando Ulrich (1952-)
Luís Filipe Menezes (1953-)
Ana Gomes (1954-)
Jorge Coelho (1954-)
Francisco Louçã (1956-)
José Manuel Durão Barroso (1956-)
António Vitorino (1957-)
António Mexia (1957-)
José Sócrates (1957-)
José Pedro Aguiar Branco (1957-)
Rui Rio (1957-)
Carlos Zorrinho (1959-)
Generation X/ Nomad (Reactive) - 1960-1980
Adquirem consciência política com a crise e queda da ditadura seguida do dramático processo de descolonização (geração de 60), ou já com a implementação do regime democrático (geração de 70). Esta geração, sobretudo a nascida na década de 1970, filhos e filhas dos baby boomers, foi objeto de uma sobre proteção familiar, tendo podido esperar quase tudo aos seus compreensíveis progenitores.
década de 1960
Vítor Gaspar (1960-)
António Costa (1961-)
António José Seguro (1962-)
Paulo Portas (1962-)
Pedro Silva Pereira (1962-)
António Filipe (1963-)
José Luís Arnaut (1963-)
José Mourinho (1963-)
António Horta Osório (1964-)
Elvira Fortunato (1964-)
Miguel Palma (1964-)
Pedro Passos Coelho (1964-)
Francisco Assis (1965-)
Nuno Melo (1966-)
Zeinal Bava (1966-)
Marco António (1967-)
Paulo Rangel (1968-)
José Eduardo Martins (1969-)
Teresa Caeiro (1969-)
década de 1970
Carlos Moedas (1970-)
Bernardino Soares (1971-)
Jorge Moreira da Silva (1971-)
Joana Vasconcelos (1971-)
João Moreira Rato (1971-)
Álvaro Santos Pereira (1972-)
Luís Figo (1972-)
Rui Tavares (1972-)
Catarina Martins (1973-)
Luís Montenegro (1973-)
Ana Drago (1975-)
Joana Amaral Dias (1975-)
Isabel Moreira (1976-)
João Galamba (1976-)
João Assunção Ribeiro (1977-)
Pedro Lomba (1977-)
Pedro Nuno Santos (1977-)
Millennial Generation / Hero (Civic) (1980-2000)
Pouco sabemos desta geração, mas as expectativas são de que, graças aos elevados níveis médios de formação, multilinguismo e osmose crescente com a tecnosfera em geral, e com a grande nuvem de comunicação e realidade aumentada em particular, mas sofrendo ao mesmo tempo o impacto brutal do fim de um longo ciclo de crescimento e inflação global (que vai desde finais do século XIX até ao início deste século), saibam adaptar-se a uma era nova de estabilização dos preços, nomeadamente do preço do trabalho, crescimento moderado (entre 0 e 2%), sem por isso perder a civilização, nem as democracias sociais. Esta geração crítica e criativa tem uma capacidade de diálogo única, nomeadamente com as gerações mais velhas, desde logo com os pais, partilhando com eles, por exemplo, a música dos anos 60 e 70.
Cristiano Ronaldo (1985-)
Rita Rato (1983-)
...
Generations. By William Strauss and Neil Howe
UNdata - Elderly-dependency ratio (per cent)
António Cerveira Pinto
Última atualização: 18/8/2013 - 13:57 WET
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