domingo, 25 de agosto de 2013

António Borges

António Borges (1949-2013)

Perdemos um português culto e corajoso

O nome de António Borges há muito que anda nos meus ouvidos. Mas a verdade é que não sabia o que pensava, e sobretudo não sabia como pensava. Ouvi e vi com curiosidade a entrevista televisiva que marca a sua entrada de leão na arena política nacional. Pareceu-me um liberal prudente e avisado (não um neoliberal qualquer). Pareceu-me uma pessoa decidida e corajosa, sobretudo quando denunciou a incompetência, a subsídio dependência e a corrupção endémicas que afectam as nossas elites partidárias, políticas e empresariais. Foi saudavelmente urbano na maneira como endereçou cumprimentos ao novo governo. O modo convicto como falou das novas gerações, nomeadamente de empresários e profissionais qualificados, que afirma serem decisivas para ultrapassar a mediocridade e desorientação estratégica que atingiram este país, tocou positivamente o meu nervo intuitivo. Farto da verborreia gasta e pitonísica dos políticos profissionais portugueses surpreendeu-me positivamente a eloquência pragmática e desassombrada deste político em ascensão. Seria um excelente mandatário de Cavaco Silva. O PSD precisa dele. E o equilíbrio da nossa democracia também.

O António Maria, 27 de março de 2005

A falta de paciência de António Borges para a mediocridade portuguesa há muito instalada foi o seu maior ativo. Ouvi-o e li-o com atenção. Dizer que António Borges era um liberal, conhecendo-se o grau de corrupção e inépcia a que chegou o capitalismo corporativo em Portugal, só pode ser entendido como um elogio. Sem mais liberdade, nomeadamente contra o oligopólio asfixiante das várias castas de rendeiros e devoristas do regime, e sem mais democracia participativa, contra o corrupto demo populismo dominante, Portugal continuará a cavar a sua própria sepultura. 

António Borges tinha uma visão financeira do mundo e da globalização. Não chegou a ver, creio, o problema de fundo dos recursos e do fim à vista de uma era inflacionista e de crescimento rápido. Viu demais o mundo através dos binóculos invertidos da Goldman Sachs. Mas sobre o analfabetismo funcional endémico dos portugueses, a indolência e corrupção da política lusitana, e o provincianismo indelével das elites indígenas, viu tudo o que queria e o que não queria. 

Que descanse em paz! 

António Cerveira Pinto

4 comentários:

  1. Quando as pessoas morrem, a tendência é enaltece-los. Eu cá não me vou esquecer como este vendedor de swaps tóxicos nos enganou a todos a favor da Goldman Sachs...

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  2. Os swaps ainda vão no adro... Quem subscreveu os primeiros contratos especulativos não foi António Borges, mas Manuela Ferreira Leite com o Citibank. Já à época o país estava de tanga, é bom não esquecer.

    Quem estava no Metro do Porto, por exemplo, quando foi subscrito um contrato swap de taxas de juro não era António Borges, mas Marco António Costa que, há umas semanas, saiu precipitadamente do governo...

    Os grandes bancos financeiros procuram mais valias onde podem colhê-las. São predadores? São. Mas não nos podemos esquecer das 'vítimas', nem como estas se endividaram até ao tutano, nem de quem, nomeadamente em Portugal, fez do endividamento público o negócio ruinoso que hoje estamos a pagar com juros.

    Por fim, não há nenhuma notícia de que António Borges tenha estado alguma vez ligado a produtos financeiros especulatios. Sabe-se, isso sim, que quando foi recrutado pelo FMI estava envolvido numa "organização de ética no setor dos fundos especulativos", e que quando deixou o FMI, em 2011, por "razões pessoais", tinha-as de sobra!

    "Em novembro de 2011, o Fundo Monetário Internacional anunciou a demissão do diretor do seu departamento europeu, o português António Borges, por 'razões pessoais'. António Borges, 63 anos, passou apenas um ano em Washington, em funções que o levaram a supervisionar alguns dos maiores empréstimos da história da instituição: à Grécia e à Irlanda, ambos membros da zona euro. Este economista, presidente no momento do seu recrutamento de uma organização de ética no setor dos fundos especulativos, tinha sido selecionado pelo FMI pelo seu conhecimento dos mercados financeiros", escreve Roche na primeira página do livro.

    Ler mais no Expresso

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  3. Embora pequeno, Portugal na sua jovem democracia também tem sido um fruto apetecido para as grandes instituições financeiras norte americanas que através dos agentes nacionais promoveram grande parte da promiscuidade entre o poder politico e o financeiro. Este era um homem actuava nas duas áreas. Não tenho qualquer prova do seu envolvimento em produtos derivados mas a sua postura encaixa perfeitamente no perfil. Como se sabe, os produtos derivados "saltaram em força" quando Bill Clinton reveu leis em vigor desde a "Grande Depressão". O poder financeiro inventou então ferramentas especulativas que mudaram o mundo. Através de produtos inventados, movimentaram-se quantidades astronómicas de dinheiro e os lesados foram principalmente aqueles que não tinham capacidade de perceber o fenómeno mas que acreditaram nas histórias que lhes foram contadas. Muitos eram políticos… A JP Morgan a Goldman Sachs são dois dos grandes responsáveis e são raros os países onde não contêm agentes locais ao seu serviço, que no final, são apenas representantes de interesses obscuros que expugnam nações da sua riqueza. Estou convencido que este senhor, era um desses agentes mas obviamente não posso provar, por isso a minha opinião vale o que vale…

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  4. Eu tenho um desejo diferente do seu ao terminar o seu post, desejo que a terra lhe seja pesada, se foi enterrado, se foi cremado, que as cinzas voltem a arder no inferno...
    Temos estado de acordo em muitos outros post's neste não.
    Bem haja
    antonio castro

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