quinta-feira, 18 de julho de 2013

Triunfo dos porcos?

ASN, A Fábula da Águia e do Porco, 2012

Fundador do euro quer enterrar a moeda única europeia

Oskar Lafontaine, um dos fundadores do euro quando era ministro das Finanças da Alemanha, pediu o fim do euro para deixar os países do Sul recuperarem. E sublinha que “os alemães ainda não perceberam que o sul da Europa, incluindo a França, será forçado pela sua miséria actual a lutar, mais cedo ou mais tarde, contra a hegemonia alemã.” Público, 6/5/2013.

Sempre se colocou a hipótese de a Alemanha abandonar o euro, a partir do momento em que verificasse não ter meios suficientes para prosseguir com o seu sonho hegemónico regional. O estado calamitoso dos bancos alemães, cujos buracos têm sido ocultados do olhar público, poderá dar lugar em breve a um desses famosos 'Momentos Minsky', e então, quando um tal colapso ocorrer, a moeda única europeia ficará seriamente ameaçada de morte.

No entanto, acabar com o euro seria uma estupidez e uma enorme derrota estratégica para a Europa no seu conjunto. Pior, seria abrir outra vez as portas ao nacionalismo intra-europeu e ao belicismo.

Há três correntes magmáticas de fundo que reforçam a presente corrida para o abismo por parte da maioria das economias desenvolvidas:
  1. a oferta agregada mundial é incapaz de satisfazer a procura agregada mundial, nomeadamente no que toca aos principais recursos naturais essenciais à civilização industrial: petróleo, carvão e gás natural abundantes e baratos; minerais vários e metais raros; água potável e terras aráveis de boa qualidade;
  2. a compensação para o declínio industrial do Ocidente, tentada pela via da educação permanente, cuja empregabilidade se revelou, porém, decrescente, pela via da expansão da economia dos serviços, do consumo conspícuo, da inflação monetária e sobretudo do crédito sem regras e a taxas de juro próximas do zero, chegou ao fim;
  3. o envelhecimento demográfico do Ocidente, mas também do Japão e da própria China, é um sinal claro de que estamos no limiar de um colapso de paradigmas sem precedentes, sobretudo no entendimento 'moderno' que temos de 'crescimento', 'desenvolvimento' e 'estado social'.
Estamos a viver o fim de um longo período de crescimento rápido e inflação (1900-2020?). Mas não sabemos ainda por onde, como e quando começará a nova era, porventura mais equilibrada, mais cooperante e mais criativa do que a que hoje continua ligada à máquina da ilusão financeira.

Uma saída do euro seria apenas mais uma experiência com as cobaias fracas da União Europeia. E, no caso de Portugal, conduzir-nos-ia de vez ao fim de quatro décadas de democracia imperfeita. Seria, em suma, um verdadeiro triunfo dos porcos!

António Cerveira Pinto

1 comentário:

  1. O euro não tem de desaparecer. Pode ou passar a ser unicamente moeda escritural ou diminuir a sua zona económica. A primeira seria o passo mais inteligente.

    Nem sei bem onde o colocar ideológicamente, será na esquerda maçónia, "socialista"?

    É que realmente prever uma desunião montária com face a uma ditadura de direita parece-me estatisticamente improvável. Sabe porquÊ?

    Primeiro a direita gosta de preservar valor, a esquerda gosta de destruir valor, ou pelo menos dá-lhe menos importância quando coisas mais importantes estão em cima da mesa.

    Segundo quase todas a desuniões monetárias, e despegamentos são feitas pela esquerda, contra a direita.

    Para coroborar o que digo vaja que este é o governo mais ultra-liberal de sempre em Portugal...

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