domingo, 7 de julho de 2013

O grande bluff


O novo vigário de Portugal

Paulo Portas não é vice, é, de facto, o novo primeiro ministro português!

30 junho 2013 20:58. Se Vítor Gaspar soube dos SWAPs especulativos pela boca de Teixeira do Santos, em 2011, e nada fez, a não ser gaguejar e promover o FASCISMO FISCAL, então deve ser imediatamente demitido! (Partido Democrata).

22 maio 2013. Com ou sem eleições antecipadas, caminhamos para a inevitabilidade de formação de um governo de unidade nacional. Resta saber se será um governo PSD-CDS-PS, ou uma Frente Populista qualquer! Se vier a ser um governo PSD-CDS-PS, aposto em Paulo Portas para futuro PM (Partido Democrata)

Tínhamo-lo anunciado neste mesmo blogue (Depois deste governo), mas parecia, quando aconteceu, simplesmente inacreditável. Paulo Portas tornou-se, acima do seu próprio partido, o novo primeiro ministro de Portugal. Pedro Passos Coelho, derrotado em toda a linha naquela que foi a mais extraordinária partida de poker político de que me lembro, é agora um zombie do PSD, a ser substituído em 2014. Não sei se Paulo Portas agiu a frio, ou se tudo não passou de um transe vertiginoso de grande jogador. Seja como for, quando o país parecia derreter-se entre a onda de calor e a crise político-partidária, e Portas sofria uma saraivada de opiniões implacáveis (incluindo a minha), causando com a sua demissão 'irrevogável' prejuízos brutais no mercado bolsista e no valor dos bancos, o homem deu, de facto, um tiro no porta-aviões da Troika, que não é o FMI, como todos sabem, mas Angela Merkel e a cúpula protestante da Comissão Europeia. Foi um timming certeiro, continua a ser uma jogada muitíssimo arriscada, mas, na realidade, corresponde inteiramente às expectativas de Aníbal Cavaco Silva, claramente expressas no discurso que proferiu no passado dia 25 de abril. Tiro-lhe, pois, a Paulo Portas, o meu chapéu!


Em poucas palavras, o que se passou foi isto: o FMI já não tem dinheiro para alimentar mais resgates, e portanto anunciou urbi et orbi que a União Europeia e o BCE vão passar a ter que contar com os seus próprios recursos e capacidades de diálogo e cooperação interna; a Reserva Federal, pela voz de Ben Bernanke, decretou o fim dos estímulos à economia americana, que não só não chegaram à economia americana, como foram em boa parte desviados para a especulação no casino da grande bolha das dívidas soberanas europeias; e, por fim, China, Rússia, Brasil, África do Sul e Índia decidiram criar o seu fundo monetário comum, o seu próprio banco de desenvolvimento e, também, uma nova moeda de reserva. Ora bem, nada disto casa com o fascismo fiscal de Vítor Gaspar, nem com primeiros ministros fracos com os fortes e fortes com os fracos.

Os Swaps foram tão só o gatilho de uma crise meticulosamente preparada, onde a própria esquerda (PCP, Bloco e PS) foi sabiamente instrumentalizada. A disponibilidade declarada pelo PCP e Bloco de Esquerda para a formação de um 'governo de esquerda' com o PS continua a ser uma farsa.

Seguem-se uma cronologia dos factos relevantes e algumas notas.


António Cerveira Pinto

ÚLTIMA HORA

8/7/2013 00:23 WEST. Bruselas prepara una segunda línea de ayuda preventiva para Portugal (El País)
La Comisión Europea prepara una segunda ronda de ayudas para Portugal —y podría explorar la misma posibilidad con Irlanda— a la vista de que es muy difícil que Lisboa vuelva con garantías de éxito a los mercados a mediados del año próximo, cuando expire el actual programa de rescate.

[...] Ese segundo arreón de ayudas tiene dos lecturas. La positiva: es una señal de que Bruselas no va a dejar caer a Lisboa, que ha hecho todo lo que le pedía la troika e incluso más; es un indicador de que la Comisión va a ayudar al Ejecutivo de Passos Coelho en su intento de rebajar la inquietud que existe entre los socios europeos y en los mercados, que vuelven a hacerse preguntas. Y la realista: el programa portugués no funciona, las buenas noticias no llegan y es necesario un nuevo espaldarazo en Portugal, y probablemente en todo cuanto tiene la troika entre manos.


CRONOLOGIA
  • 8/7/2013 16:45. PSI-20 soma 2% e fica perto de anular perdas causadas por Portas (Jornal de Negócios)
  • 8/7/2013 00:23 WET. Bruxelas prepara resgate suave para Irlanda e Portugal, abrindo caminho à experimentação de modelos para a Itália e... França.
  • 7/7/2013. FMI diz que ajuste orçamental não tem de ser levado ao máximo e admite erros. Christine Lagarde: “Temos de ter uma perspectiva a longo prazo”  (Público)
  • 6/7/2013. Metro do Porto Jogar aos 'swaps' custa 638 mil por dia (Jornal de Notícias/ Notícias ao Minuto)
  • 6/7/2013. You Are In The Ponzi Scheme Whether You Realize It Or Not (Zero Hedge)
  • 6/7/2013. 41 IMF Bailouts And Counting – How Long Before The Entire System Collapses? (ZeroHedge)
  • 6/7/2013. Bundesbank Warns China's Currency "On Its Way To Becoming Global Reserve Currency" (ZeroHedge)
  • 3/7/2013. Fundo da Segurança Social alarga limite de compra da dívida portuguesa para 90% (Jornal de Negócios)
  • 30/6/2013. Governo admite que contratos swap foram abordados em reunião com Teixeira dos Santos. (SIC)
  • 29/6/2013. Teixeira dos Santos garante que informou Vítor Gaspar sobre contratos swap em 2011 [... o relatório [da DGTF] foi produzido em Julho de 2011 com informação referente aos contratos swap existentes e quanto à sua situação”, sublinhou o antecessor de Vítor Gaspar.] (Público)
  • 21/6/2013. FMI estará a preparar suspensão da ajuda financeira à Grécia (Público)
  • 19/6/2013. Bernanke Press Conference: Live Webcast (ZeroHedge)
  • 31/5/2013. Governo afasta gestores públicos ligados aos 'swaps' (Expresso)
  • 22/5/2013. Depois deste governo  (Partido Democrata)
  • 25/4/2013. Discurso do Presidente da República na 39ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril. Assembleia da República, 25 de abril de 2013 (Expresso)
  • 25/4/2013. IMF, ECB square off in Europe austerity debate (Reuters)
  • 15-5-2013. China cuts US bond holdings (China Daily)
  • 10-5-2013. Inquérito aos swaps vai avaliar regulação dos bancos ligados à polémica (Público/ ASJP)
  • 29/4/2013. Bancos têm três dias para rever contratos (Expresso/ ASJP)
  • 23/4/2013. Swaps, os CFO das empresas públicas e os bancos (Corta-Fitas)
  • 21/4/2013. Financiamento de risco na Metro do Porto provocou remodelação governamental (Público)
  • 13/2/2013. Bruxelas tenta 'matar' discussão sobre erro do FMI. Comissão explica fragilidades de estudo que admite que impacto recessivo da austeridade foi subestimado. Vítor Gaspar mantém Portugal fora da discussão (Expresso)
  • 2/11/2012. Operações especulativas de "cobertura de riscos" ("swaps") nas empresas públicas do sector dos Transportes [Pergunta ao Governo N.º 476/XII/2 ] (PCP)
  • 31/12/2011. Relatório e Contas 2011 — Carris. A partir de 2005, face à subida das taxas de juro, a Empresa contratou Swaps para cobertura do risco (detalhado na Nota 15 do Anexo), os quais geraram fluxos financeiros, em termos líquidos de +1,6 milhões de euros em 2006, de +5,5 milhões de euros em 2007 e de + 9,0 milhões de euros em 2008. Com a descida das taxas de juro em 2009, o fluxo financeiro líquido foi de -5,0 milhões de euros, em 2010 de -15,6 milhões de euros e em 2011 de -13,8 milhões de euros. 
  • 29/6/2006. Metro do Porto investigada devido a gestão danosa (Diário de Notícias).


NOTAS
  1. Depois do anúncio de Ben Bernanke (abrandamento dos estímulos à banca americana, parte dos quais serviu para financiar a especulação com as dívidas soberanas europeias), das notícias vindas da China (diminuição das reservas de dólares em dívida americana) e de Mario Draghi, anunciando que não baixará tão cedo a taxa de juro de referência do BCE, as rendibilidades (yields) dos títulos de dívida pública, sobretudo as dos países sob resgate, dispararam. Foi por esta conjugação negativa dos astros do casino financeiro, que Gaspar resolveu saltar fora da Cassandra Lusitana, pois sabia perfeitamente que a partir deste ponto de viragem o país caminharia para o precipício. Foi também por isto que Paulo Portas ensaiou o Harakiri. Ou talvez não. Talvez tenha sido, afinal, uma grande partida de poker, que ainda decorre... Não estando o FMI disposto a alimentar mais resgates, idem para a Goldman Sachs, JPM e companhia, as coisas vão ficar mesmo muito agitadas na Europa até ao fim deste ano!
  2. Aquilo que Seguro e Portas chamam 'crescimento' é apenas a próxima bolha especulativa.
    A ideia é orientar uma parte substancial da acumulação de depósitos defensivos de milhões de depositantes e a liquidez a custo negativo detido pelos bancos graças à monetização das dívidas públicas (i.e. criação de dinheiro falso via bancos centrais) para o chamado 'crescimento': retoma das obras públicas e das operações imobiliárias em geral, empréstimos em massa a todos os negócios que possuam bons colaterais (terras aráveis e florestas, reservas de água doce, plataformas marítimas (a capturar os estados falidos), reservas minerais e de hidrocarbonetos, e reciclagem do gigantesco mercado imobiliário das cidades e metrópoles urbanas. O que vão fazer os bancos? Inflacionar uma nova bolha de crédito fácil, embora desta vez focada nas grandes metrópoles (reabilitação urbana), agrópoles, reservas mundiais de água, de vida subaquática, de minerais e hidrocarbonetos e de oxigénio. Algures durante este processo haverá inflação e subidas repentinas das taxas de juros. Os detentores de ativos valiosos (os que mencionei) que entretanto se endividaram na próxima bolha que aí vem, perderão boa parte do que era seu e foi hipotecado. Os bancos, em suma, aumentarão a sua riqueza real, desfazendo-se do Evereste de dinheiro falso entretanto parido para este efeito, e para entreter os governos e os seus distraídos eleitores. Repito: aquilo que Seguro e Portas chamam 'crescimento' é apenas a próxima bolha especulativa.
  3. Não hipotequem nada que tenha valor real: terra, água, minas, propriedade urbana, jóias e obras de arte de qualidade. Desfaçam-se paulatinamente de todas as hipotecas de bens imóveis e das dívidas pesadas. Comprem metais preciosos, mais terra, propriedade urbana nos centros das cidades e/ou próximas de redes de transporte, e juntem-se ao PD na guerra que é preciso travar contra a expropriação fiscal e financeira em curso pela coligação anti-patriótica formada por políticos imbecis, partidos e corporações profissionais corruptas, de um lado, e os bancos e seus grupos económicos, do outro. Muita atenção aos primeiros movimentos de Paulo Portas e Pires de Lima. Eles não têm grandes opções no menu do crescimento, e, por outro lado, ninguém sabe como se irá arranjar dinheiro para pagar as dívidas e os juros que não param de acumular-se. A prova do algodão está nas primeiras medidas que vierem a tomar em matéria de impostos.

Última atualização: 8/7/2013 18:48

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