sábado, 6 de julho de 2013

Durex sed lex?

O envelhecimento da China já é um cutelo sobre o futuro do país (Quartz)

Crescimento, onde e como?
 

Petróleo do Texas acima dos $100, petróleo de Brent acima dos 107 dólares (6/7/2013)

Esta alta do petróleo que arrasta a inflação silenciosa e artificialmente contida da maioria das matérias primas e cereais é a resposta inevitável a três realidades que raramente dão títulos da imprensa:

  1. a procura agregada de petróleo supera a capacidade agregada da oferta, mantendo-se por isto uma pressão permanente sobre os preços, e forçando ao mesmo tempo a disponibilização de reservas cada vez mais caras de produzir: petróleos pesados e extra-pesados, de Alberta, no Canadá, à bacia do rio Orinoco, na Venezuela; petróleo submarino a profundidades superiores a 3.000 metros, como o 'Pré-sal' da Bacia de Santos, ao largo de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro; e petróleo de xisto.
  2. o crescimento muito rápido dos países emergentes e em geral o crescimento e modernização relativa dos países e regiões mais pobres do planeta têm vindo a forçar uma distribuição menos desequilibrada do consumo do petróleo no mundo (ver este mapa).
  3. a guerra monetária em curso à escala global, cujo objetivo, por parte de cada contendor, é duplo: gerar artificialmente meios de pagamento para a compra de petróleo e outras importações inadiáveis, e aumentar a competitividade das exportações pela via cambial. Armas usadas: desvalorização agressiva intermitente do iene japonês, através da destruição literal do valor do dinheiro (juros negativos), e da compra em massa de dólares; monetização agressiva da descomunal dívida pública, externa e privada dos Estados Unidos (dilúvio monetário e destruição das taxas de juro); e uma 'colossal' desvalorização fiscal das economias do Zona Euro, mais conhecida por 'austeridade', nomeadamente através  da redução drástica dos rendimentos de capital não especulativo (destruição das taxas de juro bancárias e agressão fiscal), programas violentos de redução das dívidas e défices públicos, redução dos rendimentos do trabalho em geral, e ainda, visível nas últimas semanas, o que poderá finalmente tornar-se um ataque sem precedentes dos bancos centrais aos vínculos extrativos, mantidos há décadas, entre os bancos privados e os corruptos governos populistas europeus. As democracias populistas enterraram-se em dívidas cujos rendimentos especulativos (via swaps e outros produtos de rapina financeira) foram sendo canalizados para os bancos, e sobretudo para a chamada banca de investimento, a qual não passa, na realidade, de um cartel desmiolado de sanguessugas.

Os bancos centrais, entre o colapso e a rebelião das massas (apenas o estreito Mediterrâneo separa as primaveras árabes duma cada vez mais próxima primavera europeia), decidiram, depois da última conferência de imprensa de Ben Bernanke (Jornal de Negócios, 19-6-2013), iniciar um processo de desmame do setor bancário especulativo, porventura em direção a programas específicos de estímulo direto ao investimento produtivo, compaginado com uma guerra comercial sem precedentes, cujo objetivo será provocar uma travagem a fundo da globalização e a criação de dois novos blocos mundiais: um polarizado na aliança atlântica e outro polarizado num fractal envolvendo a China, Rússia, Índia, Brasil (e parte da América do Sul), Angola, África do Sul e Moçambique. Os campos de batalha estão sobretudo no Médio Oriente, em África, no Mar do Japão e no contíguo Mar da China, e ainda, embora em menor grau, na América do Sul.

A decadência de Portugal


O escandaloso e subserviente comportamento de Portugal no sequestro do presidente da Bolívia, além de ser mais uma paulada no imprestável ministro dos negócios estrangeiros, que sai mas não sai mas deveria sair do governo, deixa o nosso país de rastos em termos estratégicos.

A diminuição dos graus de liberdade de Portugal acentuou-se de forma dramática ao longo da semana que hoje termina. Menos autonomia diplomática e comercial no mundo, e rédeas cada vez mais apertados por parte de Berlim e de Bruxelas relativamente ao manicómio em que se transformou a partidocracia populista portuguesa.

Quer em Portugal, quer no resto mundo, há uma mudança a caminho. 


O status quo, porém, resiste por todos os meios ao seu alcance à necessária metamorfose, provocando a dor e o caos nas pessoas e nos países. Um mundo de robots, envelhecido, onde a procriação é reprimida pela economia e pelos vampiros do sistema financeiro, é um mundo onde, por fim, só o capital e as máquinas poderão pagar impostos! Será que as luminárias desorientadas que precipitam os países e os povos para o caos ainda não meditaram nisto?

Tempo para desenhar outras soluções e tempo para criar novas forças políticas e de cidadania capazes de travar a auto-destruição das democracias, e, no nosso caso, de erradicar dos círculos do poder os criminosos responsáveis pela bancarrota do país.


António Cerveira Pinto

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